São Paulo (AUN - USP) - A sepse, infecção em grau avançado, pode ser tratada com base na eritropoietina, hormônio produzido no rim e utilizando no tratamento de anemia. A pesquisa é de Camila Eleutério, do Laboratório de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). “Atualmente, o principal tratamento da sepse é feito com antibióticos e soro para que se mantenha a pressão arterial em caso de choque séptico, que é pior do que a sepse”, afirma a médica.
Em seu estudo, Camila pesquisou o uso do Ativador Contínuo do Receptor da Eritropoietina (CERA, sigla em inglês). O trabalho mostra que a grande diferença entre eritropoietina e o CERA é o fato do segundo conseguir funcionar por um maior período de tempo no organismo. “O paciente que usa a eritropoietina precisa de três doses semanais. Já com CERA, é possível tratar um paciente anêmico com apenas uma única dose mensal”, afirma Camila.
O trabalho realizado pela médica segue uma tendência internacional de buscar-se alternativas para o tratamento da infecção. A sepse é definida como uma síndrome de reação inflamatória sistêmica associada a um foco infeccioso. Comumente, leva à disfunção de múltiplos orgãos, sendo pulmões e rins os mais afetados.
Os animais sépticos apresentam problemas como disfunção renal, hepática e de pequenos vasos sanguíneos. Além disso, segundo Camila, eles costumam apresentar excesso de TLR4 (Toll Like Receptors tipo 4), de NF-κB (Fator Nuclear Kappa B) e de citocinas inflamatórias. “Há ainda a redução na expressão de receptores de eritropoietina no rim”, afirma a médica.
O TLR4 integra as células do sistema imunológico. Trata-se de um receptor que, em contato com bactérias, inicia a inflamação pelo corpo. Já o NF-κB constitui o sangue humano e, quando estimulado, atua no núcleo das células produzindo as citocinas. Estas, por sua vez, são proteínas que atuam na ativação da resposta do sistema imunológico à infecção. Se um organismo apresenta altos índices de presença dessas três substâncias no organismo, trata-se de uma infecção severa.
A eritropoietina já é usada para tratar de anemia em pessoas que possuem doença renal crônica. Suas principais propriedades são a capacidade de inibir a morte celular (em alguns casos) e a capacidade de aumentar a pressão arterial e modular o sistema imunológico, com uma possível ação de inibição da atividade inflamatória.
A pesquisa e o método da indução
A vantagem da eritropoietina já ser uma substância utilizada em outros tratamentos com seres humanos é o fato de saber-se que se trata de um hormônio seguro. Os efeitos colaterais da eritropoietina já são conhecidos.
Através da exposição do abdômen de ratos à bactérias, em laboratório, foram feitas induções da sepse nos animais. Segundo Camila, os ratos são as possíveis cobaias que melhor mimetizam a sepse humana. Em um grupo dos animais, o CERA foi aplicado antes da indução da sepse. No outro grupo – chamado de grupo séptico, houve apenas a infecção. Ambos os grupos receberam antibióticos e soros, que são os tratamentos-padrão para a ocorrência de sepse em humanos.
Os ratos que foram tratados previamente com o CERA tiveram uma significativa melhora nas disfunções renais, hepática e microvascular, além de terem menor expressão de TLR4, NF- κB e citocinas. Além disso, os rins deles expressaram mais receptores de eritropoietina do que nos rins dos ratos pertencentes ao grupo séptico.