São Paulo (AUN - USP) - A cobertura jornalística a respeito da poluição dos solos por resíduos químicos é o objeto de estudo de Maria Daniela de Araújo Vianna para obtenção do título de doutora em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP). A pesquisadora analisou a produção dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo desde 1992 até 2007, ou seja, corresponde aos 15 anos que se seguiram a partir da Rio 92, conferência da Organização das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro com o objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável e a degradação ambiental.
Enquanto trabalhava como jornalista no Agora São Paulo, em 2002, Vianna teve de cobrir um caso de contaminação do solo por gasolina na Vila Carioca, próximo à fábrica da Shell. Foi deslocada de outras atividades que iria fazer durante a tarde para realizar essa notícia e a falta de preparo fez com que diversos pontos importantes para a reportagem passassem despercebidos. Percebeu a necessidade da especialização do repórter ambiental nos assuntos em que estuda e buscou “uma nova visão de mundo, capaz de apronfundar o entendimento de pelo menos algumas conexões entre as questões ambientais, sociais e econômicas”.
Foi então que fez especialização na Faculdade de Saúde Pública da USP e percorreu o caminho que a levou ao doutorado. “Foi possível conhecer na prática o exercício da visão sistêmica e transversal, premissas preconizadas pelo jornalismo ambiental”, diz a pesquisadora.
Ainda são poucos os jornalistas que possuem preparo para tratar de questões ambientais. Isso os impede de analisar pontos mais complexos da cobertura, como aconteceu com Vianna no caso da Vila Carioca. Ela conta que no episódio ignorava o vasto histórico da Shell em episódios de contaminação no solo, o processo de procura das multinacionais pelos países emergentes em busca de legislação frouxa e a dificuldade que os moradores teriam em estabelecer a relação de causa e efeito entre a contaminação e as doenças que vinham sofrendo.
O estudo a levou a algumas conclusões interessantes como, por exemplo, que 93,4% das matérias analisadas utilizam prioritariamente fontes oficiais. Segundo Vianna, “tudo indica que a mídia, ao abordar questões ambientais na atualidade, ainda está mais preocupada em relatar fatos pontuais e sensacionais, descontextualizados de uma realidade explicitada pela crise ambiental global”.