São Paulo (AUN - USP) - A questão sobre se quem deve publicar ciência é o jornalista ou o próprio pesquisador é antiga, mas ainda permanece. Por um lado, o redator de ciência tem mais facilidade em trabalhar com informações rápidas, consegue sintetizar o assunto de forma a apontar ideias mais pertinentes e consegue passar o conteúdo de forma atraente. Isso se ele tiver experiência na área e se inteirar do tema que será tratado.
Por outro lado, o cientista conhece seu trabalho como ninguém, consegue ser preciso e completo, uma vez que não precisa lidar com a pressão de tempo que sofre o jornalista, nem com a seleção de temas a partir da linha editorial da publicação e do público-alvo. Mas, sem especialização, ele não tem como saber com maior precisão explicar para o leigo com uma linguagem mais universal, de fácil entendimento o que é interessante para a sociedade, e pode acabar no ‘biologuês’.
A editora e bióloga on-line da Revista Pesquisa Fapesp Maria Guimarães, tratou do tema na palestra Além da Universidade, no dia 9 de agosto, no Ecoencontros, que acontece sempre às quartas, às 17h30, no Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia (IB) da USP, com diversos palestrantes na área de biociências.
Maria, formada pelo IB/USP, explicou no evento a importância do pesquisador em aprender a transmitir seu conhecimento para o público. Para ela, divulgar ciência é sim papel do pesquisador. “O conhecimento científico só vale quando é público”, comenta. A bióloga lembra que a ciência pode ter efeito direto sobre a vida das pessoas e vice e versa, portanto a sociedade deve saber onde é aplicado o uso de recursos públicos.
A Revista Pesquisa Fapesp tem a intenção de ser informativa para todos os tipos de público, então procura utilizar uma linguagem que consiga atingir o maior número de leitores. Com a grande quantidade de conteúdo, o que não tem publicação impressa ganha espaço na virtual.
Em busca de não transmitir dados incorretos, Maria explica que todas as matérias são encaminhadas para o pesquisador responsável, que ajuda a corrigir os erros, se tiver, e impedir que o texto pareça de alguém que não entende do assunto. A editora conta que tornar interessante um tema para quem não é da área é um desafio.
Única bióloga da redação, Maria diz que é preciso “aproximar ciência e público, dar elementos, não verdades, democratizar o pensamento, desmistificar o cientista, mostrando processos e incertezas e trazer a ciência à vida”. Os leitores são pessoas que têm interesses próprios e nem sempre têm conhecimento prévio do que será tratado.
Desde 2006 na revista, ela fala da luta constante para quebrar essas barreiras e ver a humanidade nas pesquisas e o que encanta as pessoas, porque o resultado final depende do que o pesquisador transmite. “Esse olhar de você conseguir contar uma história, ver como pode completá-la e por onde mais você pode ir, é um exercício que o cientista precisa fazer”, finaliza.