São Paulo (AUN - USP) - Em parceria com o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a Escola Politécnica da USP (Poli) tem desenvolvido estudos acerca de dispositivos de auxílio ventricular, popularmente conhecidos como corações artificiais. Com foco no aprimoramento de bombas centrífugas, a pesquisa visa oferecer novas alternativas para pacientes que esperam na fila por um transplante cardíaco.
Segundo o professor Oswaldo Horikawa, colaborador do projeto na Poli, “o coração é uma bomba”, que tem como principal função distribuir o sangue por todo o corpo e que, em determinados casos, precisa de ajuda. “Às vezes o paciente tem o coração debilitado e fica diante de uma situação em que ele pode vir a falir completamente, sendo importante poder contar com um coração artificial. O que permite que o paciente consiga resistir por dois, três ou até quatro meses, na fila de espera por um doador.” Muito utilizados também durante o pós-operatório de cirurgias delicadas, esses dispositivos permitem que o coração se recupere sem sofrer maiores danos, uma vez que prestam assistência à circulação diminuindo o trabalho do coração natural por algum período de tempo.
Na USP, os estudos estão voltados principalmente para o coração do tipo bomba centrífuga, que consiste em um aparelho de auxílio ventricular composto por um rotor (parte giratória de uma máquina elétrica) dotado de pequenas pás, que, conforme vão girando, impulsionam o sangue, reproduzindo a função do órgão natural. A principal diferença está no fato de que esse dispositivo não funciona a partir de pulsações, o que é essencial para manter atividades vitais desempenhadas pelos aparelhos renal e hormonal, por exemplo. Assim, é possível entender por que mesmo nos casos em que o coração humano já está extremamente frágil, é preferível mantê-lo em consonância com o coração artificial, que passa a responder aos seus estímulos assumindo um ritmo de batimentos mais próximo do qual estamos acostumados.
Preocupados com a hemólise (ruptura de células do sangue), causada pelo coração do tipo axial - um dispositivo baseado no mesmo princípio da bomba centrífuga (em que um rotor promove a expulsão do fluido sanguíneo por entre suas pás) -, os pesquisadores da Poli estão desenvolvendo um rotor que fica suspenso no interior do aparelho de auxílio ventricular, o que proporciona uma diminuição do contato desse equipamento com o sangue.
Com um número de rotações cinco vezes menor do que o modelo de coração artificial do tipo axial, esse novo aparelho está atrelado ainda a um sistema de transmissão de energia através da pele. Dessa forma, é possível evitar também problemas de contaminação que, eventualmente, ocorriam quando esses aparelhos eram ligados ao corpo humano por meio de fios, em contato com o meio interno e externo.
Resultado do mesmo mecanismo de transferência de energia que encontramos nos transformadores das ruas, por exemplo, o Sistema de Energia Transcutâneo age a partir de um campo magnético criado ao redor de uma bobina que fica presa do lado de fora do corpo do paciente, em contato apenas com a pele. Desse modo, a corrente alternada que passa pelas tomadas em geral, circula no equipamento de assistência aos ventrículos alcançando uma bobina implantada internamente que, por sua vez, garante o funcionamento do coração artificial.
Fonte de um estudo que envolve outras universidades e variados ramos de pesquisa, o projeto acerca desse tipo de coração artificial depende ainda de um “longo caminho que não pode demorar muito, a fim de que essa tecnologia não fique ultrapassada”. Para Horikawa, o importante é ter esperança e resistir à pressão das empresas estrangeiras que querem introduzir essa tecnologia no Brasil a preços elevados. “Nosso objetivo é produzir esses dispositivos com um custo reduzido, utilizando a tecnologia nacional. Já identificamos as condições ideais para fazer a transmissão de energia, estudamos os efeitos sobre a pele e, agora, estamos realizando estudos para melhorar a eficiência da transmissão. Precisarão ser feitos testes in vitro e em animais, até que se possam fazer testes clínicos, mas esse longo caminho vai valer a pena.”