ISSN 2359-5191

13/09/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 84 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Escala pode ajudar a identificar crianças que sofrem abuso

São Paulo (AUN - USP) - Estudo do Instituto de Psicologia (IP) da USP traduziu e adaptou uma escala desenvolvida nos EUA que mapeia o comportamento sexual de crianças. O Child Sexuality Behavior Inventory (CBSI), em tradução literal Inventário de Comportamentos Sexuais da Criança, é um questionário com uma série de perguntas cujas respostas equivalem a pontos. Pontuações elevadas podem indicar que aquela criança está sendo abusada sexualmente ou que está sendo exposta a conteúdo inapropriado para sua idade. “A finalidade é validar uma ferramenta que possa ser usada para identificar vítimas de abuso sexual, por profissionais de todo o País”, diz a psicóloga Milena Rossetti.

São 30 itens que devem ser respondidos pelo responsável pela criança. Na maioria dos casos, essa figura é ocupada pela mãe, mas um pai, uma avó ou uma cuidadora também podem respondê-lo. As perguntas são referentes ao comportamento da criança como, por exemplo, se ela “coloca a mão no seio da mãe ou de outras mulheres com frequência?”. As respostas devem indicar a frequência média dos atos: “uma vez por semana”, “duas vezes por semana”, “uma vez por mês” e assim por diante. Quanto maior a frequência, maior a pontuação.

A pontuação varia de acordo com a idade da criança. Aos dois anos de idade é normal colocar a mão no seio da mãe, já que a criança passou há pouco pelo desmame e ainda permanece com o hábito. Mas aos 12 anos esse já é um comportamento atípico. São esses pontos que são captados pelo questionário e que conferem a diferença na pontuação, que trará alarme para o caso.

Atitudes como se vestir como alguém do sexo oposto ou tentar chamar a atenção do sexo oposto de maneira excessiva são alarmantes. “Às vezes a criança se veste como o sexo oposto porque acredita que assim deixará de ser abusada. Outras vezes, aquele menino ou aquela menina passam a acreditar que o abuso, na verdade, é amor. Então elas se insinuam naturalmente no dia a dia, porque acham aquilo normal.” Há diversas possibilidades para explicar esses casos, inclusive o de que não está acontecendo abuso, mas o que a psicóloga destaca é que “esse é um comportamento que deve ser acompanhado. É preciso verificar o contexto familiar e o círculo social da criança para verificar o que a leva a agir dessa maneira.”

Quando se fala de comportamento sexual, as grandes alterações são causadas pelo abuso sexual ou pela influência ambiental. Isso significa que a criança pode estar assistindo ao conteúdo de programas impróprios para a sua idade na televisão ou mesmo, a pesquisadora diz, estar presenciando membros de sua família tenho relações sexuais. “Muitos filhos dormem no mesmo quarto que os pais e acabam presenciando cenas de sexo. Infelizmente, é uma realidade do Brasil”, diz.

Milena explica que o próximo passo da pesquisa é encontrar a pontuação de corte para cada idade. Ou seja, encontrar a pontuação que indique que aquela criança não está tendo um comportamento considerado normal para aquela idade.

Análise empírica 
A psicóloga conta que se baseou exclusivamente na análise dos dados obtidos. “Me baseei em perguntas concretas e em números concretos. Quero mapear esses comportamentos”, explica a pesquisadora, que diz que existem diversas correntes dentro da psicologia, como a psicanálise por exemplo, que se baseia na observação e na análise desses casos observados. Mas ela não realizou seu estudo por meio dessa corrente, seu trabalho foi puramente empírico.

Participaram do estudo 58, sendo que 28 delas haviam sofrido abuso sexual, enquanto as outras 30 não. Depois de aplicar o questionário - que vinha acompanhado de um conjunto de questões socioeconômicas, para encontrar possíveis discrepâncias entre as diferentes regiões do Brasil -, Milena constatou que a pontuação das crianças que haviam sido abusadas era, de fato, muito superior a daquelas que não haviam sofrido abuso.

“A escala se mostrou aplicável. É claro que ainda não podemos validá-la para uso imediato, porque 58 crianças dentro de todo um universo não representam quase nada, mas nosso próximo passo é expandir esse número.” Definindo a pontuação de corte para cada idade e validando a escala no Brasil, ela poderá ser usada por qualquer profissional de saúde do País, desde que tenha conhecimento prévio do desenvolvimento sexual nas diferentes fases do ciclo de vida da criança, para minimizar o risco de interpretações indevidas. Com essa escala, a sociedade ganha um importante instrumento na luta contra a violência sexual praticada com crianças.

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