São Paulo (AUN - USP) - A teoria novo-desenvolvimentista da economia é suportada por Luis Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em seu artigo para a edição 75 da revista Estudos Avançados, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Em sua fala na conferência de lançamento do periódico, Bresser-Pereira coloca a taxa cambial como centro do pensamento econômico e aborda a história numa visão mais brasileira, contando que quando saiu do governo, em 1999, o quadro econômico apresentado pelo mundo de nada servia ao Brasil.
Martin Grossman, atual diretor do IEA, abriu o evento, realizado em 29 de agosto, lembrando do momento na arte em que Torres Garcia “inverteu” o mapa mundi, representando o Hemisfério Sul no topo. “A discussão aqui parte de uma tentativa muito clara, um manifesto, de ver as coisas de um modo diferente”, declarou, casando a comparação com a explicação dada pelo economista.
Bresser apresentou o novo-desenvolvimentismo a partir de um contexto histórico geral, justificando que “só dá para fazer ciência baseando-se em fatos reais”, de forma que sua teoria é histórico-dedutiva, e não hipotético-dedutiva. Ele divide o mundo pós Segunda Guerra em dois períodos. De 1948 a 1978 foram os chamados 30 anos dourados do capitalismo, seguidos pelo que classifica como 30 anos neoliberais, que terminam na crise global de 2008. Então, dentro do cenário da globalização, isto é, abertura dos mercados, o professor da FGV declara que “vivemos num mundo muito mais interdependente”, com perda de autoridade dos Estados-Nação. No entanto, o grande aumento da competitividade faz com que seja necessário o fortalicimento do seu próprio Estado-Nação, entrando em cena o novo desenvolvimentismo. O que ele traz de novidade é que é um modelo que gira em torno da taxa de câmbio.
Bresser brinca que passou dois anos procurando uma metáfora para explicar sua teoria, até que finalmente teve o insight – a taxa de câmbio é o interruptor de luz que liga e desliga as empresas competentes do mercado. Quando a taxa de câmbio é protecionista, desligam-se as empresas mundiais competentes, e são ligadas as incompetentes do mercado interno. Nesse ponto, Antônio Carlos Macedo e Silva, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também presente no debate, incitou a questão “Será que a taxa cambial reina absoluta e solitária no desenvolvimentismo?”. Bresser-Pereira respondou que ela é importante pois, em seu movimento cíclico, é sobreapreciada, isto é, excessivamente valorizada. Os economistas até então não a tinham considerado, pois julgavam que sua flutuação tinha curto prazo, mas Bresser repara em seus estudos que, a longo prazo, ela é sobreapreciada, cronicamente.
O terceiro membro da discussão no IEA, Samuel de Abreu Pessôa, também professor da Unicamp, leva a teoria histórico-dedutiva para o campo “cheio de equações racionais”, declara em tom lúdico. Ele cria a situação hipotética em que um país recebe do mundo um presente, o petróleo, e escolhe explorá-lo com a sua venda. Com o dinheiro arrecadado o país compra produtos manufaturados, que são tudo aquilo que se pode colocar num navio. Os manufaturados, explica, representam o setor dinâmico da economia, trazem crescimento. Já a parte de serviços não pode ser trazida de um navio, e depois de gastar em manufaturados, a nação terá vontade de gastar em serviços. “Você compra um carro e depois com ele vai ao cinema”, ilustra Pessôa. Entrando no novo desenvolvimentismo, conclui que a valorização do câmbio causa um encarecimento do serviço. Ele finaliza dizendo que “sendo o mais ortodoxo dos ortodoxos, lamentavelmente o crescimento dói, e requer escolhas que têm altíssimo custo para a sociedade” e que “o sistema político de uma democracia sofisticada como a brasileira não processa bem o modelo do professor Bresser”.