São Paulo (AUN - USP) - A média de público da liga de futebol americano (NFL) registrou média de 60.000 pagantes por partida durante a década de 90. Já o futebol brasileiro, apesar da popularidade do esporte em todo país, marca um número seis vezes menor durante o mesmo período. Essa situação se deve, em grande parte, ao descaso dos times com o torcedor brasileiro, o que afasta a classe média dos estádios e reduz o interesse pelo esporte. Essa é uma das justificativas para o estudo de Fábio Pera, pesquisador da Faculdade de Economia e Administração da USP, que recentemente apresentou uma análise dos fatores que influenciam a demanda por jogos de futebol nos estádios brasileiros.
Neste estudo, foram analisadas as 214 partidas do Campeonato Brasileiro 2002 que tiveram público divulgado. De acordo com Fábio, torcedor são-paulino, o objetivo era classificar os fatores responsáveis por atrair ou afastar os fãs dos estádios, tais como o tamanho da torcida, o dia da semana ou a rodada à qual pertence o jogo.
Segundo as conclusões do estudo, os fatores “qualidade esperada da partida” mostraram-se decisivos: quanto mais próximo da decisão do campeonato, maior o número de pagantes. Da mesma forma, os times mais bem colocados na tabela atraem mais torcedores. Com relação à localização dos jogos, os maiores públicos foram observados em situações nas quais os dois times eram da mesma cidade. Nesse caso, o pesquisador explica que a atração se justifica tanto pela rivalidade tradicional quanto pela facilidade de acesso ao estádio.
Tv X estádio
O fator “substitutos”, por sua vez, tratou da influência dos produtos concorrentes ao estádio como, por exemplo, a exibição do jogo pela TV aberta. Nesse caso, Fábio afirma que existem dois efeitos que se compensam: se por um lado há quem deixe de ir ao estádio para assistir ao jogo em casa, por outro a divulgação pela TV funciona como propaganda. No caso de canais pagos, como o Sportv, o estudo afirma que ele atende a um público diferente e por isso a concorrência é minimizada. Essa informação é confirmada pelo instituto de pesquisa Datafolha, segundo o qual 81% dos clientes de "pay-per-view" não costumam freqüentar os campos.
A pesquisa aponta ainda que não existe relação direta entre o tamanho da torcida e a freqüência dela nos jogos. De acordo com a DataFolha, Flamengo é citado como time preferido de 17% dos brasileiros, contudo o time carioca só aparece em sexto lugar na média de público do campeonato de 2002.
No caso dos fatores econômicos, os resultados do estudo mostram que a renda e a taxa de desemprego dos torcedores não apresentaram uma influência suficientemente clara na média de público analisada. Contudo, a pesquisa classifica o jogo de futebol como um “bem-inferior”, ou seja, um produto que é menos procurado à medida que a renda aumenta. Isso significa que os estádios são freqüentados por torcedores provenientes, em sua maioria, das classes de menor poder aquisitivo.
Um dado curioso do trabalho é o grande público presente nos jogos do Paysandu, time paraense que teve a maior média de pagantes em todo campeonato brasileiro de 2002 – cerca de 23 mil torcedores por jogo. Segundo Fábio, a atração exercida pelas partidas desse time é justificada pelo fator “novidade”, ou seja, “o time acabara de subir para a Primeira Divisão, tendo a oportunidade de jogar contra as grandes equipes do futebol brasileiro depois de 10 anos rebaixado”. O efeito esperado é que a permanência do time na elite diminua a média nos estádios com o tempo.
Outra surpresa apontada pelo estudo é a baixa atratividade exercida pela presença de jogadores de seleção nos times locais. Segundo Fábio, as estrelas com passagem pela seleção são em geral jogadores veteranos e já em decadência. “Um bom exemplo é o Romário, porque imaginamos que muitas pessoas vão ao estádio apenas para vê-lo jogar. Ele, mesmo sendo veterano, já não traz fãs aos estádios”, explica o pesquisador. Também foi inesperado o resultado que considera a influência do dia da semana em relação ao público presente: as conclusões do economista mostram que as partidas domingueiras atraem tanto quanto os jogos realizados durante a semana.
Segundo as estatísticas apresentadas, a média de público na década de 90 caiu 30% em relação ao início dos anos 70, período durante o qual a população brasileira aumentou 46%. De acordo com o pesquisador, isso acontece porque o estádio brasileiro ainda não aprendeu a tratar bem seus torcedores. Fábio explica que “no exterior, o `produto futebol’ tem sido melhorado, com fácil acesso ao estádio, conforto nas arquibancadas e diminuição da violência. No caso das ligas americanas, além dos fatores já citados, cada jogo é um show”. No Brasil, ao contrário, há um número cada vez maior de torneios sem expressão e os horários das partidas são agendados apenas de acordo com os interesses da TV, além do problema ainda não resolvido da violência das torcidas organizadas.