São Paulo (AUN - USP) - Será lançado no dia 4 de outubro o e-book Diálogos Inteculturais - reflexões interdisciplinares e intervenções psicossociais , do grupo de pesquisa Diálogos Interculturais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que trata dos choques entre diferentes culturas. O evento é aberto e gratuito, e trará o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida, para uma palestra, além de debate com os autores.

Organizado por Sylvia Dantas, psicanalista, professora da Unifesp e coordenadora do grupo no IEA, o livro, já disponível para download por meio do link http://www.iea.usp.br/textos/dialogosinterculturais.pdf, reúne artigos de profissionais de diversas áreas que não só se debruçam sobre a questão da interculturalidade como a vivenciaram.

A coordenadora declara, aliás, que todo mundo passa por isso. A pesquisa “não é objeto de estante, faz parte de quem somos”, afirma. A professora exemplifica que pode ocorrer com pessoas que saem de populações tradicionais, como a indígena ou a do interior, e vão para o ambiente acadêmico nas grandes cidades, e também com aqueles que voltam para o Brasil depois de uma experiência estrangeira.

A questão do retorno é muito pulsante hoje pois, “em função da crise econômica mundial, existem muitos brasileiros que foram para o exterior e estão retornando”, aponta. Para agravar, “quando as pessoas retornam é um choque, porque elas não são mais as mesmas”, observa Sylvia, explicando que isso se deve ao processo interno desenvolvido para se adaptar à uma realidade que é diferente da de origem.

Sylvia trabalhou o tema em 2007, por meio de seu Programa de Apoio a Projetos Institucionais com a Participação de Recém-Doutores (Pro-Doc), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Além do projeto, orientação de pesquisa e aulas, o Pro-Doc incluía a intervenção prática. Ela reuniu uma equipe de alunos orientandos formados em psicologia e ofereceu com eles atendimento à imigrantes e brasileiros regressantes do exterior. O objetivo era formar profissionais na área de orientação intercultural. Alguns textos do livro são de autoria desses estudantes.

A pluralidade de vozes no livro, além de se encaixar no tipo de atividade desenvolvida no IEA, foi a melhor maneira de tratar o tema, uma vez que a interculturalidade interpassa todas os campos e incita “questões que demandam uma compreensão profunda”, conta Sylvia. A obra traz gente de áreas como psicologia social e psicanálise (Sylvia), literatura (Ligia Fonseca) e sociologia urbanista (Maura Veras).

Estranhamentos em São Paulo
Maura Veras fala sobre os estrangeirismos na cidade de São Paulo, isto é, pessoas que são tratadas como estrangeiras e não deveriam, e uma segregação que se dá no próprio espaço físico, com disparidades claras entre regiões centrais e periféricas. Alguém que ajudou a construir a cidade pode se encontrar distante de realidade que afinal também é dela. “Indíginas são vistos como estranhos nessa sociedade quando na verdade fazem parte dela”, diz Sylvia Dantas, “e isso aponta nosso total desconhecimento, gerado por questões históricas, da pluralidade brasileira”, completa.

Para ela, ainda falta muito para que essas questões sejam lidadas de forma efetiva, e reclama por um investimento real em educação. Adotar políticas de afirmação da diversidade sem uni-las com melhoras na educação, no sentido de proporcionar informação, esclarecimento e criticidade, representa um risco. “A falta de espaços para reflexão gera uma receita para futuros choques e atitudes discriminatórias”, salienta a pesquisadora.