São Paulo (AUN - USP) - Aproveitando as discussões levantadas pelo simpósio internacional A Esquerda na América Latina, o Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP organizou, em 14 de setembro, o seminário Paraguai, Brasil e Argentina – Itaipu e Yacireta: as origens e saídas para o conflito, para debater as complicadas relações de poder entre os países latinoamericanos na disputa energética.

O evento contou com a presença de Osvaldo Coggiola, professor titular do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Ricardo Canese, ex-dirigente da Comisión de Entes Binacionales Hidroeléctricos (CEBH/MRE) do Paraguai e ex-candidato à Presidência da República do Paraguai; Jorge Altamira, professor colaborador da Universidade de Buenos Aires e ex-candidato a presidente da República da Argentina; Pablo Rieznik, professor emérito da Universidade de Buenos Aires, e Ildo Luis Sauer, diretor do IEE.

Osvaldo Coggiola abriu o debate falando sobre o contexto histórico que envolve as relações diplomáticas entre os países da América do Sul. De acordo com ele, há uma necessidade de ir mais a fundo nas relações políticas. “Só a soma dos PIBs não adianta”, disse, sobre afirmação da presidente da República Dilma Roussef de que a soma dos PIBs de todos os países que formam o Mercosul nos tornaria a quinta maior economia do mundo. Sobre o assunto, Jorge Altamira afirma que o Mercosul sofre de contradições internas que impossibilitam a integração completa.

Algumas dessas contradições passam pelo setor energético. Enquanto a Argentina e o Uruguai estão em crise energética, “queimando petróleo e gás natural nesse exato momento”, conforme afirmou Ricardo Canese, a usina de Itaipu “desperdiça”, pelo vertedouro – sistema de vazão do excesso de água em usinas hidrelétricas - energia suficiente para abastecer uma população de um milhão de pessoas. “Por que não deixamos de queimar essas energias e compartilhamos o que sobra da nossa usina?”, questiona. “Estamos em um processo de integração cheio de imperfeições, extremamente tímido.”

Ildo Luis Sauer, diretor do IEE, afirma que há traços do período pré-revolução industrial nos acordos firmados agora, em que prevalece a disputa por posse de terras, quando na verdade o que está em jogo atualmente é a renda hidráulica de determinada área, e compara a energia hidrelétrica ao petróleo: “O controle de acesso ao poço de petróleo é muito importante. O potencial hidrelétrico é um poço de petróleo que não se resguarda nunca”.

Para Pablo Rieznik, “a disputa energética é a metáfora dos problemas dos novos governos de esquerda que pegaram o poder na América Latina a partir de 2002, 2003”, opinião reiterada por Jorge Altamira, que usa como exemplo um acordo feito entre Cuba e Brasil para a construção de uma refinaria de açúcar em Pernambuco: “Cuba nunca investiu um bolívar - moeda venezuelana - para essa construção”.

De acordo com Ildo Sauer, é possível construir uma cooperação entre os povos na América Latina, desde que os acordos existentes sejam sepultados. Ele vai além: acha completamente possível que se crie uma multinacional latinoamericana na área de energia, uma empresa única que integrasse todos os países. Segundo seus cálculos, seu capital seria de aproximadamente US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões.