São Paulo (AUN - USP) - Com o sucesso recente nas Paraolimpíadas de Londres 2012 e a expectativa de um trabalho ainda melhor na próxima edição, que acontecerá em terra brasileiras em 2016, o esporte para deficientes começa a ser um tema consideravelmente discutido em nosso país.
A importância do esporte como fator social é importante para qualquer cidadão. Contudo, pessoas com deficiência física ou cognitiva podem se utilizar do esporte como auxiliador no processo de reabilitação, é o que afirma a professora Elisabeth Mattos, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo: “O esporte é muito importante para a manutenção da reabilitação ou mesmo para descobertas de novas possibilidades da pessoa que tem deficiência para se manter ativo e saudável”.
Mattos, que era nadadora antes de se tornar professora, começou a trabalhar com atletas com deficiência para a coleta de dados de seu doutorado. Inicialmente, ela utilizava as piscinas da EEFE para aumentar a carga horária de treinamento dos atletas. A presença regular de atletas deficientes na Escola chamou a atenção de outras pessoas, foi assim que iniciou uma demanda por um curso de natação que englobasse os deficientes. “As pessoas começaram a perguntar se na EEFE existia um curso para natação com pessoas deficientes, então percebi que poderia abrir um curso com essa população. No segundo semestre, ainda em conjunto com a coleta de dados, nós abrimos um curso voluntário para teste”. Após um tempo, o curso foi tomando forma e foi se ampliando, segundo a professora: “Em 1996 ele se sedimentou, mudou de nome. No começo era só para deficientes físicos, hoje atendemos todo tipo de deficiência”.
O curso de natação criado pela professora tem um diferencial importante, já que trabalha com o conceito de inclusão reversa. Mattos explica esse método: “Trabalhamos as pessoas com deficiência juntamente com as sem deficiências, todo mundo nada na mesma piscina”. A idealizadora do curso ressalta o resultado dessa prática: “Há um benefício até maior para quem não tem deficiência, pois eles se deparam com várias situações que não imaginavam e quebram certos medos e preconceitos, além de se motivarem muito”. As pessoas sem deficiência que ocupam as vagas são geralmente parentes ou amigos próximos dos deficientes, sendo estes os que possuem prioridade de vagas.
Por todos esses fatores, o curso é um sucesso e já conta com 12 monitores (que são alunos de graduação que se inscrevem para o trabalho) e 103 alunos matriculados por semestre. Os alunos podem ficar durante um ano e meio, tendo aulas duas vezes por semana, além de um terceiro dia caso necessite de algum acompanhamento especial. Sobre isso, a professora explica porque alguns alunos não são aceitos após uma triagem inicial: “Existem alguns casos que não conseguimos atender com nossa estrutura. Se vier uma criança muito agressiva ou que não consiga seguir todas as instruções do monitor, por exemplo, ela acabada correndo o risco de se afogar. Mas nós nunca fechamos porta, sempre encaminhamos essas pessoas para outro lugar”.
A importância desse trabalho vai muito além da parte física dos deficientes, o trabalho psicológico também é muito valorizado: “Em termos emocionais, todos eles se sentem mais incluídos por fazerem uma atividade que todas as pessoas fazem. E mesmo que seja apenas voltado para a saúde, nós temos atletas que já participaram até de seleção brasileira”. Esses resultados são fruto de um trabalho contínuo que conta com apoio de grande parte do Departamento de Esportes da EEFE, segundo a professora.
Garantir o acesso de deficientes ao esporte é fazer valer um direito constitucional. Mattos acredita que para ampliar essa área no país é necessário mais projetos como seu grupo, já que ele também da oportunidade para os alunos de graduação melhorarem sua formação: “O aluno que participa do curso como monitor sai daqui com mais experiência e pode atuar melhor no mercado de trabalho, possibilitando uma ampliação no oferecimento de serviços para os deficientes”.
Sobre perspectivas futuras para a área, a professora acredita no fomento através da chegada das Paraolimpíadas 2016, que devem proporcionar a criação de centros de treinamentos específicos e uma visibilidade maior ao esporte para deficientes: “Tenho certeza que a vinda das paraolimpíadas será um motivador para a ampliação para o esporte para deficientes no Brasil”.