ISSN 2359-5191

09/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 93 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Mudança na visão esportiva: a formação do atleta

São Paulo (AUN - USP) - A formação de um atleta competitivo é um processo complexo que precisa ser levado a sério pelos profissionais da área de esporte e educação física. Toda estrutura emocional e psicológica de um atleta é condicionada por sua formação. É por isso que Thania Xerfan Melhem, mestranda da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), trabalhou durante três anos na tese chamada O processo de formação de atletas competitivos sob a perspectiva fenomenológico-existencial.

Thania, formada em psicologica pela USP, sempre teve como objetivo atuar com psicologia do esporte. A opção por analisar o processo de formação de um atleta veio do incômodo da mestranda que notou um fato que despertou sua atenção: “O foco dos profissionais da área se encontra mais na produtividade do atleta do que no atleta em si. Fui me mobilizando quanto a isso, entendendo os desafios da área e quis escrever um pouco sobre isso”, conta.

A tese começou a ser trabalhada em 2009 e foi defendida em março de 2012. O projeto teve orientação da docente da EFFE e uma das grandes referências da psicologia no esporte, Katia Rubio. A mestranda conta as razões de ter escolhido a EFFE para realizar sua pesquisa: “Queria fazer essa tese aqui porque sabia que era uma visão muito pouco utilizada na Escola”. Thania também contou com a ajuda da professora Josefina Piccino, da Sociedade Brasileira de Psicanálise Humanista (Sobraph).

Método de investigação
A fenomenologia é apenas uma das três grandes abordagens da psicologia, que também conta com a psicanalítica e comportamental. A mestranda explica o objetivo do recorte teórico escolhido: “Fenomenologia é um método de investigação. Porém, ela é também vista como uma abordagem que questiona uma visão de mundo que foi construída ao longo dos tempos”. Centrando seu olhar no atleta, a tese pretende entender as peculiaridades da formação. “A fenomenologia diz que não devemos tentar entender o homem a partir da psique ou do comportamento. Temos que entendê-lo sempre em relação ao mundo em que vive. A visão fenomenológica vai olhar sempre para a relação, nunca vou separar o sujeito do mundo para entendê-lo sozinho porque ele acontece na relação.”

Buscar uma visão psicológica e humanista nem sempre é fácil em uma área tão rígida como a do esporte. “A fenomenologia-existencial não é muito bem difundida no esporte porque é uma visão que passa por um tom um pouco idealista. Fica difícil de mostrar certos pontos na prática para os profissionais que atuam junto com você.” O trabalho tem como base alguns conceitos do chamado de “pai da fenomenologia”, o matemático e filósofo Edmund Husserl.

Tratar de pensamento existencial envolve uma série de pensadores que possuem certas divergências. Segundo Thania, seu trabalho teve o mérito de conseguir alinhar pensamentos semelhantes: “No meu trabalho, procurei ter muito cuidado e tratar do ponto comum entre alguns pensadores, que era falar da existência humana. Tentei criar uma harmonia entre seus conceitos”. Autores como Maria Aparecida Bicudo, Rui de Souza Josgrilberg e Dagmar Silva de Castro, por exemplo, auxiliaram na bibliografia da tese.

Entrevistas com atletas competitivos
Partir do discurso dos entrevistados para buscar sua direção. Esse é um dos pontos interessantes na fenomenologia. Isto levado em conta, Thania estabeleceu sua forma de análise: entrevistar atletas competitivos de diferentes idades e em diferentes fases da vida. “Tentei construir três perguntas norteadoras para que conseguisse explorar o discurso dos entrevistados. Uma pergunta foi voltada para a história do sujeito com a modalidade, a outra buscava qual o significado daquela prática e a ultima tratava do que ele levaria daquilo que foi vivido.”

Segundo a mestranda, as quatro entrevistas tomaram caminhos diferentes devido às peculiaridades dos atletas. Porém, em última análise, houve pontos de convergência na fala dos atletas que, na tese, são chamados de unidades de significado: “Todas as dez unidades que cito foram os pontos em comum das entrevistas. A ideia é interessante porque não planejei, fui apenas seguindo os passos do método e elas foram aparecendo”. Thania explica ainda que uma das metas da fenomenologia é não se ater a discursos prontos, o que enriqueceu o projeto.

Por fim, as entrevistas mostraram como o esporte produziu um impacto nas transformações pessoais dos atletas. A mestranda espera uma mudança, ainda que a longo prazo: “Nós ainda temos uma ideia de que rendimento e formação não combinam. A proposta do meu trabalho é exatamente apontar para isso: separamos algo que não deveria se separar”. Thania espera que consigamos mudar a visão predominante na formação do atleta: “Ser um atleta profissional de alto rendimento deveria ser apenas um dos caminhos possíveis na formação. Precisamos tirar a prioridade do rendimento e entender que o processo de formação é um processo educativo que pode transmitir diversos valores para o indivíduo, além de proporcionar outras alternativas diferentes da profissionalização como atleta”.

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