ISSN 2359-5191

09/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 93 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Pesquisa analisa prevalência do abuso sexual na infância de mulheres brasileiras

São Paulo (AUN - USP) - A pesquisadora Gabriela Brito de Castro dedicou seu mestrado à pesquisa do abuso sexual cometido contra crianças brasileiras do sexo feminino. O objetivo central do estudo é compreender melhor esse tipo de violência e contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas na área de saúde para a prevenção, identificação e apoio das vítimas do abuso sexual.

Graduada em psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Gabriela conta que sua trajetória como pesquisadora começou com um projeto de iniciação científica cujo objetivo era avaliar a influência de aspectos religiosos no desenvolvimento de crianças e adolescentes abrigados na cidade em que estudava. "Durante minha formação acadêmica, sempre me interessei por questões ligadas à infância e à adolescência, sobretudo relacionadas a situações de vulnerabilidade e, em especial, à violência doméstica e intrafamiliar", explica a psicóloga. Antes de chegar ao mestrado na Faculdade de Saúde Pública, Gabriela participou de outros dois programas de pós-graduação, sendo um deles o Master Internacional de Integração de Pessoas com Deficiência, Idosos e em Risco Social, uma parceria da UFU com quatro universidades europeias. A pesquisadora comenta que essa experiência lhe permitiu conhecer a realidade de vários países e dedicar-se ao estudo da inclusão social de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Sob o título Abuso sexual na infância de mulheres brasileiras, a dissertação de mestrado de Gabriela analisa os dados de uma pesquisa promovida em 11 países pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e realizada no Brasil pela Universidade de São Paulo, entre os anos 2000 e 2001. Participaram da pesquisa 2645 brasileiras com idades entre 15 e 49 anos, residentes na cidade de São Paulo e na Zona da Mata de Pernambuco. Segundo a pesquisadora, "o estudo é pioneiro por utilizar métodos e instrumentos de coleta de dados padronizados e comuns a pesquisas de outros dez países, e isso fez com que os dados pudessem ser comparados, consideradas as diferenças culturais".

Um dos objetivos do estudo promovido pela OMS era identificar a prevalência do abuso sexual na infância de mulheres em áreas rurais e urbanas. Entre as brasileiras entrevistadas, 6% (177) relataram ter sofrido abuso sexual antes dos 15 anos. A maior parte dos agressores eram familiares do sexo masculino, com idades entre 30 e 39 anos. Além disso, cerca de 35% das mulheres entrevistadas relataram regularidade na prática do abuso, o que pode, segundo a pesquisadora, indicar a ausência ou baixa acessibilidade aos mecanismos de detecção e denúncia desse tipo de violência. Ela explica: "a reincidência sugere proximidade da vítima ao agressor, e isso contribui para o aumento da gravidade da violência e de suas consequências na vida das vítimas. Falhas no atendimento e lacunas na rede de atenção às pessoas que a sofrem também podem contribuir para sua recorrência".

Outro objetivo dessa pesquisa era descrever os fatores associados à prática do abuso sexual na infância. Muitas das vítimas entrevistadas, por exemplo, testemunharam agressão física por parceiro íntimo à mãe, o que denota a existência de relação entre a violência doméstica e a ocorrência do abuso sexual infantil. Segundo Gabriela, o que ocorre é um aumento da vulnerabilidade e da propensão dessas crianças a se tornarem também vítimas de maus tratos. Por essa razão, ela defende que a presença da violência doméstica deve ser considerada na detecção da violência sexual e na assistência à vítima. "Além disso, mães agredidas fisicamente podem desenvolver transtornos, como depressão e ansiedade, capazes de interferir significativamente no cuidado e na proteção dos filhos", revela.

Em sua pesquisa, Gabriela pôde identificar que a natureza da violência sexual cometida contra mulheres está estreitamente relacionada a questões de gênero. O fato de que o abuso acontece principalmente entre meninas já é um indicativo forte dessa realidade. "O abuso sexual infantil entre mulheres, entre tantas formas de violência, é marcado também pela violência de gênero, que tem por base a submissão feminina nas relações desiguais entre homens e mulheres", explica. Dentro do conjunto de fatores relacionados à violência sexual, não é possível ignorar, portanto, a presença de fatores como o machismo, a hierarquização sexual e a submissão forçada da mulher. A pesquisadora relata que a violência cometida por homens é frequentemente banalizada, encarada como rotineira e entendida como parte da natureza masculina, e que muitas vezes a própria vítima é culpabilizada, como se houvesse provocado a agressão. "Essa concepção viabiliza a ocorrência do abuso sexual infantil. A violência seria legitimada pela sociedade como fonte de poder, poder esse exercido prioritariamente por homens nas relações familiares."

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