São Paulo (AUN - USP) - Há seis anos, os professores e alunos de pós-graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), na USP, coordenados pelo professor João Palermo Neto, vêm desenvolvendo pesquisas na área da neuroimunomodulação, que estuda as relações entre o sistema nervoso central e o sistema imunológico. As pesquisas demonstram em laboratório que há uma ligação direta entre os dois sistemas, e que um atua sobre o outro.
A pesquisa se dá através de duas linhas: como o sistema nervoso central atua no imunológico e como o sistema imunológico atua no sistema nervoso central. O grupo vem desenvolvendo uma série de teses e pesquisas que podem mudar a forma de como a ciência vê os fatores psicológicos e como eles atuam na imunidade e no conseqüente desenvolvimento de doenças.
Experiências recentes mostram algo que já se imaginava através da observação humana, mas que nunca antes fora provado em laboratório: que a convivência com um ente querido enfermo causa estresse e, como conseqüência, uma diminuição na imunidade de quem acompanha o doente, tornando-o mais suscetível a inúmeras doenças, como o câncer.
A experiência foi feita com camundongos. Prepararam-se dois grupos de animais, divididos em duplas. Um com um animais com tumor Erlich, acompanhados, cada um por um animal saudável; e outro com duplas de animais saudáveis. Após testes de nível de estresse e imunidade, notou-se que os animais que acompanhavam os camundongos doentes tinham apresentado uma queda significativa de imunidade. Além disso, passaram a agir como os companheiros doentes: aquietavam-se num canto da gaiola e comiam menos que o normal. Por outro lado, os animais que acompanhavam camundongos saudáveis não apresentaram alterações.
Em outra etapa do teste, as células de tumor foram injetadas nos camundongos sadios e a doença se desenvolveu mais rapidamente nos animais que haviam acompanhado os camundongos doentes do que nos que conviveram com os animais saldáveis.
Palermo diz que ficou impressionado com os resultados, que acabou superando as expectativas. Essa é a primeira vez na literatura médica em que se comprovou que a simples convivência com um parente ou amigo doente pode afetar funções vitais do organismo.