ISSN 2359-5191

16/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 97 - Sociedade - Escola de Educação Física e Esporte
Pesquisa da EEFE trata de pioneirismo olímpico feminino

São Paulo (AUN - USP) - Nas Olímpiadas de 2012, realizadas em Londres, a delegação brasileira voltou para casa com a 22ª colocação na classificação geral e 17 medalhas no total. Destas, seis foram conquistadas por mulheres, incluindo duas das três medalhas de ouro que o País conseguiu obter na competição. O resultado expressivo, porém, não reflete a trajetória histórica do gênero feminino nos Jogos Olímpicos.

Ao analisar a trajetória olímpica das mulheres, o historiador Paulo Nascimento percebeu um hiato curioso. A primeira participação feminina em Jogos Olímpicos aconteceu em 1932, em Los Angeles, e as primeiras medalhas vieram somente em 1996, em Atlanta. Houve, portanto, um intervalo de 64 anos. Trabalhando junto ao Grupo de Estudos Olímpicos da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), Nascimento explica o surgimento de sua tese: “Na medida em que as pesquisas do Grupo de Estudos Olímpicos se desenvolviam, começamos a pensar que poderia ser interessante fazer uma pesquisa voltada para as mulheres. Fomos então entrevistar todas as atletas brasileiras que participaram dos Jogos Olímpicos. Veio a curiosidade de saber os motivos desse intervalo entre a primeira participação e as primeiras medalhas”.

Na realização da tese de mestrado Mulheres no pódio: as histórias de vida das primeiras medalhistas olímpicas brasileiras, o historiador reuniu as biografias e entrevistas de seis das 28 estreantes no pódio olímpico. No estudo, orientado pela professora Katia Rubio da EEFE, Nascimento tentou encontrar as peculiaridades dessas atletas: “A minha curiosidade foi pensar o que tornou essas atletas pioneiras do esporte olímpico brasileiro, o que elas tinham de específico, quais as peculiaridades dessas atletas que permitiram a elas ocupar um lugar de destaque no esporte olímpico brasileiro”. Segundo ele, essas medalhistas viveram parte da infância sob a perspectiva de que esporte era prática para homens, e o fato de elas terem sabido lidar com adversidades como esta chamou sua atenção como pesquisador.

Nascimento explica como as entrevistas foram feitas: “Nós começamos pedindo para que as atletas nos contassem suas histórias de vida. Nós ficávamos atentos ao que elas traziam em seu discurso para que com isso pudéssemos abordar outros temas. É importante o modo que as atletas escolhem para construir a narrativa de sua história de vida”. A questão discriminatória também foi abordada nos depoimentos: “Tínhamos curiosidade em saber se as atletas detectaram em algum momento alguma forma de preconceito, discriminação ou adversidade de alguma ordem, que fosse de gênero, racial, de religião, classe social”.

A pesquisa com foco em atletas marcantes na trajetória olímpica do país pode ser um incentivo para reflexão, é o que espera o historiador: “Penso que esta pesquisa é mais uma oportunidade para pensarmos a memória do país, em como resgatá-la e fomentá-la. Talvez o esporte seja uma dos campos mais intensos onde a memória do povo brasileiro é acionada”. Nascimento ainda deixa claro um desejo: “Criar práticas, instituições e políticas públicas que fomentem essas ações de preservação da memória no Brasil seria muito importante”, afirma.

Uma das conclusões da tese é que a trajetória dessas vitoriosas atletas pode estar servindo de exemplo para uma nova geração de atletas e de mulheres de uma forma geral. Nascimento explica: “As novas gerações tomam essas mulheres como exemplo. E eu não duvido que existam outros lugares, outras profissões e outras áreas para além do esporte que também as tomem como parâmetro, ainda mais agora que as proporções de megaevento dos Jogos Olímpicos têm se consolidado”.

Interessante também é o fato de que todas as entrevistadas para a realização da pesquisa agora também estão trabalhando em uma área que era, antigamente, comum ao gênero masculino. “As seis entrevistadas hoje estão ocupando postos administrativos em ONGs, federações e confederações. Isso não me parece ser pouca coisa, e acredito que elas estão mais uma vez desbravando um novo espaço, mais uma vez trabalhando para ocupar um espaço predominantemente masculino”, analisa.

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