ISSN 2359-5191

22/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 99 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Uma nova visão sobre as teias de aranha

São Paulo (AUN - USP) - A pesquisa de Tatiana Hideko Kawamoto, do Instituto de Biociências (IB) da USP, foi produzida entre os anos de 2008 e 2011 e buscou por meio de uma abordagem interdisciplinar, “trazer para o contexto da biologia das aranhas, conceitos de bioenergética, ainda pouco explorados, mas que são essenciais para a compreensão da sua ecologia, comportamento e evolução”.

Para a pesquisadora, o conceito de bioenergética é interpretativo. Ela entende que a bioenergética é um campo de estudo que visa compreender o processo de gasto de energia nos processos realizados pelos seres vivos – respiração, alimentação, deslocamento – para tentar entender o organismo. A partir disso, ela propôs o trabalho com o objetivo de determinar a contribuição dos diferentes aspectos biológicos (comportamento, hábitos de vida) para constatar como variam as taxas da quantidade de energia gasta nas atividades vitais das aranhas de teia.

Estudar um grupo de animais incomuns em pesquisa de fisiologia representa uma forma de testar a generalidade e alcance das teorias, ainda hoje fortemente suportadas por estudos de vertebrados. Assim, Tatiana escolheu as aranhas, que ao fazerem parte de um dos maiores grupos em número de espécies de animais terrestres, constituem um bom modelo para testar a validade desses padrões também para os invertebrados.

O gênero escolhido foi o Loxosceles, conhecidas como aranhas-marrom, causadoras de acidentes com lesões sérias na pele, principalmente na região do Paraná. Com elas, realizou testes sobre o efeito do gasto de energia do sedentarismo, a intensidade da construção das teias e a comparação com a grande diversidade de aranhas do grupo Orbiculariae, aranhas de teia geométrica (tipo a do Homem-Aranha).

Foram 120 horas de observações feitas em quase cerca de 200 aranhas. O estudo foi feito com base na respiração, na quantidade de oxigênio utilizada pela aranha por hora em sua rotina de atividade diária ao longo de cinco dias.

Como o consumo das aranhas é muito baixo, o que está em volta pode interferir. A estratégia foi colocá-las em câmaras isoladas e vedadas por um determinado tempo suficiente para atingir uma quantidade de consumo suficiente para o aparelho de medição captar quando o fluxo de ar passasse e levasse o ar da câmara para o sensor do analisador de oxigênio.

Em sua tese de mestrado, Tatiana acreditava que aranhas que produziam teias mais resistentes, formadas por tufos de proteína – de adesividade seca, e mais caras –, gastavam mais energia ao longo do dia do que as produtoras de teias mais aquosas formadas por cerca de 80% do volume em água – de adesividade úmida –, feitas para não serem tão resistentes.

A partir das observações e dos resultados alcançados na pesquisa de doutorado, ela percebeu que o que acontecia era uma compensação. O custo diário verificado teve montantes parecidos entre os tipos de aranhas e elas compensavam de acordo com seu comportamento: a teia cara tinha taxas de gasto de energia de repouso menores do que as aranhas de teia barata, ou seja, a diferença estava na distribuição da energia ao longo do dia e não no total de energia gasta em 24 horas.

Apesar dos resultados não demonstrarem que as diferenças comportamentais entre as espécies afetam os gastos globais de energia das aranhas, elas diferem na distribuição de uma mesma quantidade diária de energia. Esse resultado forçou uma reelaboração da hipótese inicial de uma nova teoria da evolução das aranhas de teia, de uma simples diferença de gasto energético para comportar a distribuição de energia diária em diferentes atividades.

A pesquisadora do IB/USP salienta que “a pesquisa abriu uma nova forma de olhar para esses grupos a partir do uso de ferramentas típica da fisiologia, não usadas antes, que podem permitir testes das leis gerais dos vertebrados e ajudar, por exemplos, na elaboração de estratégias para o controle de populações que causam prejuízos ou ainda para o entendimento da evolução desses animais”, explicou Tatiana.

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