ISSN 2359-5191

22/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 99 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
O futuro orgânico da eletrônica

São Paulo (AUN - USP) - Quando vem à mente a palavra eletrônica, costuma-se pensar em eletricidade, em robôs, microchips e computadores. Aquelas que já estudaram o tema podem pensar na eletrônica do silício. Na verdade, o silício é tão importante para a eletrônica que nomeia uma região da Califórnia, o Vale do Silício, pois nesta estão concentradas algumas das maiores indústrias de tecnologia do mundo. Sabendo de tudo isso, que tal se alguém falar que o futuro da eletrônica não está necessariamente no silício, e sim em moléculas orgânicas?

Em palestra dada no Instituto de Física da USP, o professor Roberto Faria, do IFSC/USP, explicou como funciona a eletrônica orgânica, suas aplicações práticas e o que se espera dela no futuro.

A eletrônica orgânica se desenvolve propriamente com a descoberta do poliacetileno, um polímero (macro-molécula de carbono e hidrogênio) descoberta na década de 1970 que, diferentemente da maioria das moléculas orgânicas, que costumam ser isolantes elétricos, possui uma alta condutividade elétrica, adquirindo as características de um semi-condutor.

Mas, segundo Roberto Faria, o poliacetileno não é a única molécula a ser utilizada nesse ramo: “O número de moléculas orgânicas semi-condutoras hoje é muito grande e a cada dia aumenta mais. Essa área (a eletrônica orgânica) é muito interdisciplinar. Os físicos pensam em uma molécula, os químicos criam-na e depois nós (os físicos) e os engenheiros a testamos”.

De forma simplificada, a eletrônica orgânica funciona assim: as moléculas são dissolvidas em uma solução que posteriormente é depositada em um dispositivo especial, onde serão formadas camadas da solução, os chamados filmes finos nanométricos. Esses filmes, em camadas, são o que formam as estruturas utilizadas nos chips e dispositivos orgânicos.

Alguns produtos da eletrônica orgânica já estão no mercado. É o caso dos OLEDs, que são diodos orgânicos emissores de luz. Alguns desses diodos já estão em telas de computador, tablets ou smartphones. A grande característica dos OLEDS é que eles permitem a criação de telas flexíveis, ou seja, num futuro próximo as telas de computador ou celular poderão ser “dobradas”. O professor Faria apresentou um modelo de monitor fabricado pela Sony que já trabalha com a tecnologia, mas ainda estágio experimental e “custando pelo menos cinco vezes o preço de um monitor de cristal líquido”.

Uma outra utilização para os OLEDs é a iluminação pública. De acordo com Faria, atualmente a melhor lâmpada do mercado tem uma eficiência de 35%, enquanto se estima que as lâmpadas de OLED terão uma eficiência de 99%. “A diminuição do gasto de energia será altíssima”, completou o professor.

Além das futuras lâmpadas, também já são estudadas formas de se aproveitar a eletrônica orgânica para aprimorar a captação de energia solar. Durante todo o seminário, o professor Roberto Fria demonstrou sua preocupação com o meio ambiente, e o que sua área de pesquisa pode fazer para melhorá-lo. “É importante ressaltar que o século 20 teve um desenvolvimento extraordinário, mas com um grande impacto no planeta. Chegou a hora de pensarmos em uma eletrônica mais limpa e sustentável”, disse.

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