ISSN 2359-5191

26/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 100 - Educação - Instituto de Estudos Brasileiros
Mesa discute formação e perspectivas dos estudos brasileiros
Evento celebrativo do cinquentenário do IEB discute os rumos e o diálogo entre os estudos sobre o Brasil

São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), criado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, completou, no dia 5 de outubro, 50 anos. Durante todo o ano de 2012, em especial nos dias próximos à data comemorativa, diversos eventos foram realizados. Esses marcam uma nova fase do Instituto, com a mudança de sua identidade visual e outra sede, que está sendo construída desde 2006. O local poderá abrigar de uma melhor forma o acervo do IEB, o maior sobre estudos brasileiros em todo o país.

No dia 10 de outubro, a mesa redonda Estudos Brasileiros: formações e perspectivas reuniu especialistas estrangeiros que se especializaram em estudos brasileiros. Os convidados foram Anthony Wynne Pereira, do Brazil Institute do King’s College, de Londres, Gustavo Alejandro Sorá, do Museo de Antropología da Universidad Nacional de Córdoba e Thomas Mark Cohen, da Biblioteca Oliveira Lima da Universidade Católica dos Estados Unidos. Todos trataram, dentro de temas específicos, como é e se desenvolve os estudos sobre o Brasil, e de como diálogos podem ser feitos a partir destas experiências.

A primeira fala foi de Anthony Pereira, que destacou que o papel do brasilianista mudou. Há um novo interesse no estudo sobre Brasil, antes concentrado nos aspectos econômicos. Um de seus primeiros questionamentos foi se há uma função para os estudos brasileiros em um novo contexto internacional, com um novo olhar sobre as singularidades e também para o nacionalismo. Pereira afirmou que sim, pois o papel do Brasil também se insere no contexto global, com o crescimento da classe média, como acontece na Ásia. Há, assim, outro processo de avaliação mundial, que sai dos grandes pólos desenvolvidos, dando espaço para países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.

A crise na Europa e nos Estados Unidos permitiu uma nova visão para o Brasil, principalmente em relação ao seu modelo político e exemplos de políticas públicas, e isto consequentemente atraiu a atenção para os estudos brasileiros. E isso se comprova mesmo na própria criação do instituto em que Anthony trabalha, que existe há dois anos. Para reforçar suas ideias, Pereira deu o exemplo de um estudo britânico que analisou o modelo econômico brasileiro, e que avalia sua aplicação na Europa. Ponderou também que os desafios do Brasil são desafios mundiais, e por isso a difusão e troca entre os diferentes trabalhos e soluções encontradas em outros países é importante.

Já Gustavo Sorá afirmou que não há, na América Latina, centros de estudos sobre o Brasil como na Europa e nos Estados Unidos, e situação contrária também ocorre. Para o estudioso, isto contribui para a rede de estereótipos criada em torno das figuras específicas de cada país. Sorá enfatizou seu argumento dizendo que há professores que têm um grupo de estudos de um determinado país latino-americano, mas não se chega a formar um centro de estudos. Com isso se distancia a interpretação de que o argentino, por exemplo, não conhece o brasileiro, e consequentemente o brasileiro não conhece o argentino. Um reforço a esta ideia está no fato de que grande parte dos livros de estudiosos brasileiros foi traduzida para o espanhol na Argentina.

Nisso Sorá fez uma historiografia da evolução dos estudos sobre o Brasil, e também sobre as publicações de estudos e livros, dizendo que é uma inverdade falar que os livros brasileiros são pouco conhecidos. Mas há interesses mercadológicos nestas publicações, como os livros de Jorge Amado.

Thomas Cohen concentrou o seu discurso na história da Biblioteca Oliveira Lima, da Universidade Católica dos Estados Unidos. A biblioteca tem o maior acervo sobre Brasil e Portugal fora dos dois países, com mais de 60 mil volumes.

O estudioso ressaltou a importância de novos métodos de compartilhamento, com a digitalização de livros, e também a mudança do papel das bibliotecas, que antes eram consideradas “centros do saber”. Concluiu dizendo que as conexões entre os conhecimentos dos outros países se fariam de forma mais ampla com a troca de conteúdos para acervos públicos.

Cohen destacou mais um papel da biblioteca, como organizadora e ambiente para catalogar tais documentos, e assim o papel do bibliotecário se faz fundamental. E ele destaca a baixa valorização da profissão de bibliotecário, que em muitos locais recebe baixos salários. Todos os autores também destacaram a importância da tradução dos textos para o maior conhecimento dos trabalhos de autores brasileiros. Destacou-se que a primeira tradução de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, foi feita este ano para o inglês, e que alguns dos autores mais importantes do país ainda não estão disponíveis em línguas estrangeiras.

Um dos pontos do debate, que aconteceu posteriormente, foi a tentativa de fazer uma conexão entre o IEB e as instituições que participaram da mesa, no sentido de estabelecer e aprofundar o diálogo entre os diferentes locais que estudam o Brasil.

No dia 29 de outubro haverá mais uma possibilidade de discussão e apresentação aos estudos brasileiros, com o lançamento de dois livros sobre Sérgio Buarque de Holanda, organizada pela editora Companhia das Letras, a Edusp e o IEB. O evento, que será acompanhado de um debate com Pedro Meira Monteiro, Antonio Arnoni Prado, Lilia Schwarcz Marcos Moraes, acontecerá às 17 horas, na Casa de Cultura Japonesa da USP.

Mais informações no site do Instituto: http://www.ieb.usp.br.

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