São Paulo (AUN - USP) - Com o grande volume de informações que circulam a partir de pesquisas, a contextualização do problema pode ser dificultada devido a erros de interpretação ou até de análise. Em sua pesquisa, o professor Diogo Samia, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), defende que o método de meta-análise é uma ferramenta eficaz que pode reduzir o grau de incerteza sobre os resultados de algum estudo.
A meta-análise pode ser considerada uma síntese de outras pesquisas sobre um determinado tópico, tentando preencher lacunas que possam eventualmente existir. O termo foi usado pela primeira vez por G. V. Glass, em 1976, em um artigo intituladoPrimary, secondaryand meta-analysisofresearch, na revistaEducationalResearch. Mas, já se tem registros de usos anteriores.
Em meados do século 17, bases estatísticas desse método foram estabelecidas na astronomia a partir da combinação dos dados de diferentes estudos. Já na época foi verificado que essa observação poderia ser mais apropriada do que a dos trabalhos existentes. Entretanto, só quando o aumento da utilização dessa análise aconteceu em diversas áreas do conhecimento foi que sua definição surgiu.
Na ecologia, o uso começou a ganhar espaço por volta dos anos 90, quando a importância para as conclusões sobre o tamanho dos efeitos começou a ser maior. Ela passou a avaliar o viés nos dados e o impacto sobre o resultado. Samia explicou em sua palestra do ciclo “Ecoencontros”, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, que a meta-análise pode ser realizada em quatro etapas: estabelecimento do objetivo, pesquisa de literatura, tamanho do efeito e análise dos dados.
Dentro dessas etapas, o pesquisador pode chegar a dados faltantes e informações adicionais aos trabalhos já publicados, pode usar critérios diferentes, aumentar o número da amostra de teste para tentar reduzir ao mínimo as chances de erros, entre outras finalidades. Hoje, a meta-análise é uma das principais diretrizes que orientam as práticas de saúdes baseadas em evidências sobre seus efeitos benéficos ou indesejáveis.
O uso é frequente em experimentos que sofreram impedimentos práticos, que tiveram custos muito elevados ou até em pesquisas que só fornecem estatísticas de dados simples e limitados, como médias, coeficientes angulares e proporções. Um dos exemplos dados pelo professor da UFG foi a primeira meta-análise utilizada para avaliar o efeito de uma intervenção terapêutica em saúde.
Publicada em 1955 por Beecher, médico americano, para testar o efeito placebo, a pesquisa The Powerful Placebo se tornou referência na área. Foram 15 testes clínicos estudados por meio da meta-análise que concluíram que 35% dos pacientes melhoravam simplesmente por tomar medicamentos inofensivos.“A alma da meta-análise é a sua revisão, é a qualidade das comparações existentes nela, a transparência dos dados resultantes dela. Trata-se de uma ferramenta muito poderosa e importante para sintetizar o conhecimento”, finalizou o pesquisador.