São Paulo (AUN - USP) - Luiz Otávio Lamardo é estudante de mestrado e, desde setembro de 2011, tem desenvolvido trabalhos acerca da classificação visual de produtos agrícolas. Estimulado a se aprofundar no tema depois de tomar contato com as necessidades do mercado, ele revela que aprendeu no Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) a importância de se apostar em projetos que levam em consideração nichos pouco explorados e a capacidade de inovar, principalmente, quando se é um jovem empreendedor.
Instigado a montar um negócio, antes mesmo de se formar em engenharia da computação, o estudante procurou buscar embasamento no curso da disciplina Criação e Administração de Empresas de Computação, o qual lhe deu suporte para levar seu sonho adiante. Hoje, ao lado de dois colegas da faculdade, ele busca projetar máquinas com visão computacional e inteligência artificial capazes de diferenciar variedades de mudas de violeta.
A ideia inicial do projeto é otimizar a produção de violetas a partir da correta classificação de determinados tipos da planta cultivada. Assim, é possível evitar que as mudas tenham um acompanhamento inadequado e variem muito em termos de qualidade quando o cultivo é feito em larga escala. Segundo Luiz, essa necessidade está ligada ao fato de que “o ser humano não é feito para realizar trabalhos repetitivos”, o que aumenta a taxa de erro na avaliação do desempenho final do processo que envolve, por exemplo, a plantação no interior de estufas.
Atualmente, o que ocorre na maioria dos casos é que o produtor precisa treinar seus funcionários para reconhecer a diferença entre as mudas, tarefa que demanda tempo e, por mais que seja realizada com cautela, na prática não funciona com precisão. Dessa forma, as mudas acabam se misturando e, aos poucos, fica difícil de organizar a produção, decidindo sobre quais vasos precisam passar para outra estufa – e seguir com o processo de crescimento – e quais deles podem ser encaminhados para a venda, por exemplo.
Nesse sentido, o projeto propõe a utilização de máquinas capazes de reconhecer o padrão das mudas por meio de fotos, cujo intuito é otimizar a produção e permitir que o agricultor garanta a qualidade de seu produto. Assim, “se ele tiver mudas homogêneas, o preço dos lotes pode ser o mesmo. Além disso, como o metro quadrado desse tipo de empreendimento é muito caro, a vantagem está ainda no aproveitamento do espaço”. Sem ter que se preocupar com a falta de organização no interior da estufa, o produtor pode agrupar uma grande quantidade de mudas que se comportam de maneira semelhante e manipulá-las em conjunto. Isso evita também que uma planta atrapalhe o crescimento da outra, dado o espaço necessário para as folhas se desenvolverem que, no caso da separação manual, pode ficar prejudicado quando as violetas estão misturadas.
Luiz explica que o trabalho foi feito em etapas. Primeiro, com ajuda de um especialista experiente, ele e seus colegas, puderam medir parâmetros (como a área da folha e o comprimento do ramo) das violetas, considerados importantes por esse profissional, acostumado a distinguir as plantas. Depois, tendo selecionado 26 parâmetros ao todo, foi necessário ranquear a importância de cada um deles para estabelecer a diferença entre as mudas. E só então, um classificador – cuja função é separar as mudas – foi utilizado levando em consideração diferentes combinações de parâmetros.
Ao final dessa sequência, o classificador passa, ainda, por um treinamento, que acontece da seguinte forma: a título de aprendizado são colocadas várias mudas do tipo A, por exemplo, na esteira. Sendo que cada uma delas passa a ser fotografada pelas câmeras do aparelho, que reconhece os parâmetros escolhidos e vai armazenando os dados relativos àquele modelo de muda. Assim, quando a associação estiver completa, a máquina será capaz de diferenciar os tipos de muda, lançando em diferentes recipientes, por meio de um sistema de assopramento (pelo qual o impulso do ar garante que as plantas não sejam danificadas), as variedades de violeta.
De acordo com Luiz, “é muito bom que a pesquisa acadêmica seja revertida em produtos e serviços para a sociedade”, caminho esse que o mestrado dele seguiu e que promete ser de grande valia para ampliar as tecnologias disponíveis no mercado. A empresa fundada por ele e seus societários, em 2012, fica sediada no Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia) e recebe o nome dos produtos que oferece: MVisia (máquinas com visão computacional e inteligência artificial).