São Paulo (AUN - USP) - Na linha dos estudos desenvolvidos pelo Grupo de Prevenção da Poluição do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (GP2), Guilherme De Paula Galdiano dissertou em seu mestrado sobre o inventário do ciclo de vida do papel offset produzido no Brasil, categoria de papéis para imprimir que registra altos níveis de produção e consumo no País.
Com o objetivo de minimizar os impactos ambientais negativos que a indústria química, principalmente, gera durante o processo de transformação de determinados produtos, o GP2 adotou como chave para as suas pesquisas a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que também faz parte do trabalho de Galdiano. Segundo ele, “a ACV consiste em um procedimento para analisar a complexa interação de um sistema com o ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida”, ou seja, “do berço ao túmulo”, perspectiva pela qual a análise ficou conhecida.
Dessa forma, entre as aplicações da ACV estão: a possibilidade de avaliar a adequação ambiental de certa tecnologia, processo ou produto, no que diz respeito ao uso eficiente de recursos e à geração de resíduos, a identificação de possíveis melhorias na cadeia de produção e a comparação de alternativas tecnológicas – quando um processo ou produto é destinado à mesma função. Além disso, Galdiano destaca a importância da ACV na “geração de informações para os consumidores e o meio técnico, que poderão servir de base para a rotulagem ambiental e até facilitar a introdução de um determinado produto no mercado ou, no extremo oposto, sustentar o seu banimento”.
No caso do setor de papel sulfite, o pesquisador vê com bons olhos as práticas sustentáveis que têm sido adotadas pelas empresas, mas reforça que ainda há muito a ser feito. “A indústria papeleira, assim como outros segmentos produtivos, tem adotado mudanças em seus processos com o objetivo de se manterem competitivas no mercado. No entanto, como a fabricação do papel é um processo complexo e envolve indiretamente diversos outros subsistemas associados, novas melhorias estão sempre em desenvolvimento e neste sentido, a ACV pode contribuir significativamente.”
No Brasil, apesar de toda a produção de papel e celulose ser originária de áreas de reflorestamento – uma vez que o papel resultante de florestas plantadas permite produzir 30 vezes mais produto do que aquele que se obtém da exploração de florestas nativas –, sendo, portanto, fonte de recursos renováveis, não tem sido simples garantir uma resposta eficaz do mercado ao aumento do setor. “Observa-se que os investimentos realizados na área de reflorestamento nos últimos anos não têm acompanhado o crescimento industrial, de forma que em médio prazo, a indústria pode ir perdendo competitividade.” Sobre os benefícios proporcionados pela adoção da ACV no processo produtivo, Galdiano afirma que os resultados da pesquisa podem contribuir para que as empresas aprendam a conviver com uma visão mais global do ciclo de vida do produto, não se limitando a desenvolver melhorias ambientais, mas também características que aumentem sua produtividade. Esse é o caso de alterações logísticas, análise da eficiência operacional e acompanhamento da escala de produtividade, por exemplo.
Em relação ao estabelecimento de um selo verde por parte do setor, o pesquisador revela que o GP2 está em processo de formação de um banco de dados que permita implementar essa ferramenta, de grande importância, ainda, para os consumidores. “Por meio da certificação, os consumidores têm a certeza de que as melhores práticas, geradoras de menor impacto ambiental, foram adotadas”. Assim, conclui: “É possível avaliar que não houve super exploração dos recursos naturais, que o uso do solo e a gestão dos recursos florestais estão sendo realizadas adequadamente, que nenhuma árvore foi derrubada ilegalmente para a produção do papel, que os direitos dos trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva foram respeitados ou que as comunidades instaladas no entorno das florestas não foram prejudicadas pela atividade”.