São Paulo (AUN - USP) - Com a proximidade das eleições norte-americanas, discussões e reflexões começam a surgir na tentativa de prever quais seriam as conseqüências para o Brasil no caso de mudanças no governo dos Estados Unidos.
Segundo o professor de Economia Internacional da FEA-USP, Siegfried Bender, nossas relações comerciais sairiam prejudicadas em uma eventual administração democrata: ”Embora não ache que a política econômica de Bush seja favorável a nós, com a mudança para John Kerry altera-se a tônica das negociações, e a meu ver com prejuízo para a economia brasileira”. O professor explica que eventuais disputas na OMC (Organização Mundial do Comércio) seriam mais duras e severas por parte dos EUA, com medidas mais agressivas na defesa de seus interesses. “Além disso o partido democrata tem um histórico de proximidade com os sindicatos trabalhistas, o que provavelmente os levaria a adotar com mais força medidas pertinentes à economia americana, mas que poderiam ser prejudiciais aos demais países, dentre os quais o Brasil”, completa.
Para Bender, uma política de taxação dos produtos brasileiros que entram nos EUA, como tivemos no caso do aço e do suco de laranja, também seria agravada. “Tradicionalmente o partido democrata é mais protecionista que o republicano. Clinton foi uma exceção. Com Kerry creio que voltaria a linha tradicional do partido, afetando negativamente nossas exportações”. Os Estados Unidos são nosso maior comprador. Quando nosso produto que é lá vendido fica mais caro devido a subsídios (apoio financeiro do governo) a produtores ou devido a altos impostos de importação, nosso volume de exportação é bastante afetado, o que contribui negativamente na balança comercial (diferença entre valor gasto com importações e arrecadado com exportações).
Outro aspecto que poderia se agravar com a derrota de Bush é o da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Este projeto, que desde já mostra-se polêmico e controverso, apresentaria perdas significativas para o Brasil, com o endurecimento das negociações comerciais por parte do governo americano. “Ainda assim acho fundamental a entrada do Brasil na Área de Livre Comércio. Em uma eventual ALCA sem nossa presença, os maiores prejudicados seríamos nós mesmos, que perderíamos espaço econômico e mercado para a Argentina, Uruguai, Chile, entre outros”, diz Bender.
No entanto o professor faz questão de ressaltar que, se por um lado a economia brasileira seria a prejudicada, por outro as relações internacionais seriam revigoradas com a vitória de Kerry. Para Bender, um fato como a declaração de guerra ao Iraque com total antipatia dos demais países seria muito mais raro com os democratas no poder: “acredito que o relacionamento dos Estados Unidos com os demais países do mundo seria melhor com o partido democrata, que tende a ter um caráter não tão messiânico como o do governo Bush”, argumenta.