ISSN 2359-5191

15/09/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 11 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Pesquisadora estuda criatividade na ciência e na arte

São Paulo (AUN - USP) - Literatura e física costumam ser associadas a conteúdos diametralmente opostos: na primeira entrariam em cena criatividade, imaginação e raciocínios não-lógicos; a segunda cederia espaço para os raciocínios lógicos e as deduções. Porém, as duas disciplinas podem ter muito mais em comum do que qualquer um imagina. Em sua tese de mestrado, que será defendida no Instituto de Psicologia da USP no dia 29 de setembro, Raquel Aparecida Tonolli Jacob tentou detectar possíveis identidades entre ciência e fazer literário. E encontrou-as: as imagens.

Estamos habituados à figura do escritor como criador inspirado por sua musa, relegando os cientistas a personagens pragmáticas e um tanto excêntricas. Em determinadas concepções, a ciência baseia-se no sensível e a arte, no inteligível. Mas as fórmulas trazem em seu cerne também um processo de criação baseado, como na literatura, em imagens. Copérnico descreveu em um texto contemporâneo à sua teoria heliocêntrica o processo que o levou à proposição desse modelo. Ele teria visualizado a imagem de um homem sobre o Sol, de braços abertos, observando a Terra e os outros planetas. Portanto, embora sigam caminhos e implicações muito diversos, tanto a arte como a ciência teriam a imaginação criativa como ponto central.

Para desenvolver seu trabalho, Tonolli Jacob tomou como base um texto do cientista Werner Heisenberg e a obra do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em ambas, tentou detectar os sistemas lógicos e os sistemas de significação não-lógico matemática. Esses conceitos já foram tratados por diversos autores, entre eles Piaget e a própria orientadora da tese, a professora Zélia Ramozzi-Chiarottino, titular do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Segundo Piaget, por trás das inferências que realizamos, na forma de suposições, está sempre embutido o raciocínio lógico. Assim, ao imaginarmos possibilidades, trabalhamos numa chave aristotélica (algo do tipo: A não pode jamais ser B). Esse tipo de raciocínio binário, muito comum na infância, reaparece em nosso cotidiano muitas vezes, como substrato para raciocínios e deduções mais complexos.

Física e literatura tratariam, também, da questão da persistência do autor, seja em capas de livros ou em nomes de teoremas. Por outro lado, há a questão da universalidade: se o físico parte da amostragem de eventos particulares para, através dessa observação, inferir leis que determinam ou influenciam a todos os eventos de mesma natureza, também o escritor parte do particular para o universal, transmitindo através de seu texto sensações ou imagens que pertenciam, inicialmente, apenas a ele. Paul Valéry falava de uma poesia que transforma o leitor em inspirado.

A escolha por Heisenberg deveu-se à contemporaneidade entre ele e Drummond, de forma que ambos viveram um contexto histórico parecido, o que deve ter influído na formação de seus imaginários, ajudando a suscitar as questões que perpassariam as obras de ambos. As similaridades entre os dois foram, então, aparecendo: a questão do princípio da incerteza de Heisenberg e a dúvida existencial em Drummond - apontada por críticos como Antonio Candido, Alfredo Bosi e Luís Lima e representada pelas muitas escolhas e hesitações ao longo de poemas de diferentes épocas - denotam uma atitude de questionamento diante do mundo.

Tonolli Jacob chama a atenção para a pequena quantidade de estudos voltados para a concepção das obras literárias, se comparados aos estudos referentes à recepção dessas mesmas obras pelo leitor. As análises, portanto, costumam se deter sobre o produto artístico acabado, evitando incursões pelo processo de execução. Em sua pesquisa, portanto, ela buscou referenciais na Psicologia e nos estudos desenvolvidos sobre o imaginário.

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