São Paulo (AUN - USP) - Em simulações matemáticas sobre o comportamento de disseminação de doenças no transporte de gado entre fazendas e outros locais de criação, uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP constatou que mesmo partindo-se dos mesmos parâmetros, os padrões de disseminação das enfermidades nas redes criadas apresentaram evoluções distintas, que implicaram em situações finais diferentes.
Os resultados ajudaram a identificar a dinâmica da rede com a da doença e demonstraram que quanto maior o número de arestas no modelo, que representam fatos, personagens e qualquer intervenção nova ao sistema, maior a prevalência da doença. Neste caso, restringir a transição do gado aumentaria o controle sobre a disseminação de enfermidades.
Segundo o autor da pesquisa, o matemático Raul Ossada, é importante estudar o comportamento das doenças, e observar seus fluxos de contaminação para desenvolver, a partir do desvendamento da contaminação, estratégias para proteger os animais e evitar prejuízos aos criadores. A pesquisa é uma dissertação de mestrado chamada Modelagem da dinâmica de doenças infecciosas em redes de movimentação de animais, que foi realizada no Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística (LEB) do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ, sob orientação do professor Marcos Amaku.
As redes de movimentação animal consistem em representações das trajetórias seguidas pelos animais, num certo período. As distâncias percorridas, no caso, correspondem aos caminhos entre as fazendas ou locais de criação até outras fazendas ou abatedouros. A movimentação do gado por ambientes de criação e abate contribui para espalhar doenças como a brucelose e febre aftosa.
Apesar das redes hipotéticas terem sido geradas a partir das mesmas informações, o modo como cada uma delas foi montada, no que o pesquisador chamou de "heterogeneidade das relações entres os vértices", influenciou de formas diferentes a dinâmica de espalhamento das doenças, sendo que em alguns casos, a estrutura da rede pode favorecer o espalhamento. Os vértices neste caso representam indivíduos ou formas de organizações que são acrescentadas ao sistema.
A pesquisa, a partir de implementações computacionais realizadas por meio dos programas R e Matlab, simulou os espalhamentos admitindo como modelo dados de 2007 de gado em trânsito, fornecidos pelo Guias de Trânsito Animal (GTA) do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) do Estado de Mato Grosso (MT). Os dados foram submetidos a cinco modelos e construiu-se curvas considerando o modelo Suscetível – Infectado (SI) e o modelo Suscetível – Infectado – Suscetível (SIS). “No modelo SI, um vértice inicialmente está suscetível a adquirir uma infecção e, após adquiri-la, fica infectado por todo o período de estudo. Já no modelo SIS o vértice infectado pode voltar a ser suscetível durante o período de estudo, podendo voltar a se infectar, formando assim um ciclo”, explica Ossada.
Com os dados levantados dessas simulações matemáticas, autoridades sanitárias podem tomar medidas que protejam os produtores dos prejuízos causados pelo gado doente. “Através deles (os estudos) é possível melhorar o controle da sanidade animal, já que possibilitam uma ação mais eficiente dos órgãos responsáveis pela vigilância epidemiológica”, diz o pesquisador, “refletindo, assim, na melhoria e no aumento da produção de produtos de origem animal, o que beneficia a sociedade como um todo”. Neste caso, utilizar modelos matemáticos para simular espalhamento de doenças favorece a construção de cenários que a prática real não permitiria, uma vez que provocar doenças no gado ou não interferir para a cura delas seria antiético.