São Paulo (AUN - USP) - Um estudo realizado no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP constatou em testes de suscetibilidade a antibióticos, que a claritromicina é mais eficaz contra o patógeno Ureaplasma diversum, causador de infecções no aparelho reprodutivo de vacas, entre outras doenças.
O trabalho de mestrado Determinação da concentração inibitória mínima de antibióticos contra ureaplasmas isolados de bovinos pela inibição de crescimento e citometria de fluxo foi elaborado pela médica veterinária Denise Jaqueto de B. Pinheiro, sob orientação do professor Jorge Timenetsky, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Segundo a pesquisadora, é importante realizar este trabalho “justamente por conta da resistência bacteriana aos antibióticos, que causa muitas perdas econômicas no rebanho bovino brasileiro”.
Foram testados os antibióticos ciprofloxacina, enrofloxacina, claritromicina, tilosina, cloranfenicol, gentamicina, oxitetraciclina e tiamulina. Entre eles, o microrganismo apresentou maior resistência aos gentamicina, oxitetraciclina e tiamulina, e, em uma análise que permitiu verificar a integridade das estruturas das bactérias, os antibióticos que apresentaram menores danos ao patógeno foram tiamulina, ciprofloxacina e claritromicina, respectivamente. A avaliação desses resultados permitiu concluir que a claritromicina, de modo geral, é melhor para o tratamento da infecção por esse patógeno.
O Ureaplasma diversum é uma bactéria da classe mollicutes, que são os menores organismos vivos, não possuem parede celular e apresentam colesterol em suas membranas celulares, o que as diferenciam das bactérias comuns. São parasitas de células animais e vegetais. Segundo a pesquisadora, as infecções causadas por esses patógenos podem, inclusive, causar alterações cromossômicas e interferir na replicação viral.
Esses microrganismos estão relacionados com a pleuropneumonia contagiosa bovina (PPCB), que contamina bovinos e bubalinos e tem taxa de mortalidade de 50%. Os animais contaminados com mollicutes desenvolvem lesões, edemas e necroses nos linfonodos, nos rins e nos pulmões, entre outros órgãos. Também estão relacionados com pneumonias em bezerros e mastites (inflamação das mamas) em vacas adultas. O tratamento para essas doenças é feito por meio de antibióticos.
Em sua investigação, a veterinária testou a suscetibilidade do microrganismo a seis classes de antibióticos pelo método da determinação da concentração inibitória Mínima (CIM) e citometria de fluxo. Foram coletadas amostras do muco da região genital de vacas provenientes da região sudoeste da Bahia. Segundo Denise, as amostras vinham da região devido à parceria que a Universidade de São Paulo (USP) tem com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Após a identificação do patógeno, amostras foram colocadas em contato com cada um dos antibióticos. Depois de algum tempo, as células foram analisadas pelo citômetro de fluxo. Esse aparelho permite que se analise parâmetros específicos de partículas celulares por meio de conjunto com sondas fluorescentes. Após a emissão destes fluxos, os pulsos provenientes da leitura da colônia são recolhidos e a classificação da magnitude destes permite a exibição do número de células que possuem uma determinada propriedade. “Apesar da diversidade de células, é possível avaliar, com estes aparelhos, diferenças de estágios metabólicos ou estruturais”, diz Denise. E continua “A técnica é importante para o estudo da heterogeneidade das populações microbianas”. Dessa forma, é possível determinar se as estruturas microbianas foram lesionadas, e aonde ocorreram tais lesões.
Denise comenta também que o estudo, além de viabilizar o citômetro de fluxo como forma de medir suscetibilidade microbiana aos antibióticos, serve para determinar as concentrações mínimas desses antibióticos que são eficazes para terapia e prevenção da infecção por Ureaplasma diversum, por exemplo. “Com isso, pode-se diminuir perdas econômicas ao produtor rural”, finaliza a pesquisadora.