São Paulo (AUN - USP) - Segundo o Ministério da Saúde, em levantamento divulgado no ano de 2010, até aquele período foram contabilizados 429,18 mil partos em jovens de 10 a 19 anos no Brasil. Iara Falleiros Braga, mestre em ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP), em sua tese do programa de pós-graduação de Enfermagem em Saúde Pública, problematiza a vulnerável situação social das adolescentes grávidas. A tese Adolescência e Maternidade: analisando a rede social e o apoio social, defendida em março deste ano, contou com a participação de 20 jovens grávidas na faixa etária entre 14 e 19 anos de um município no interior do Estado de São Paulo.
Em seu trabalho, Iara investiga a existência de rede e apoio social para as adolescentes grávidas durante a gestação e o pós-parto em Ribeirão Preto, a pesquisadora afirma que o adolescente tem sido alvo de políticas públicas, as quais, apesar de existentes, na maioria dos casos são fragmentadas e a rede de atendimento não tem uma tessitura consistente.
Entendendo que a voz dessas jovens mães necessita reverberar e servir como base para elaboração de políticas públicas que possam de fato assisti-las, durante a pesquisa Iara investigou se as adolescentes grávidas em questão sentiam-se de fato protegidas e amparadas e se elas enxergavam a existência de uma rede de apoio, seja ela pública ou dos entes mais próximos, como amigos e familiares.
Coleta de dados
Através do método da pesquisa qualitativa, onde o pesquisador realiza entrevistas pessoais e deve ser flexível, capaz de refletir e interagir com os sujeitos sociais envolvidos, no caso as adolescentes, a pesquisadora coletou informações sobre a visão das adolescentes e separou em temas como percepção de rede social e de apoio, vulnerabilidades dessa rede e, por fim, a vivência da maternidade.
Entre os dados resultantes da pesquisa a figura da mãe das adolescentes apresenta-se como personagem central do apoio social. Algumas fragilidades foram evidenciadas como a existência do acesso aos serviços de saúde, mas não da acessibilidade, pois as adolescentes não estabeleceram vínculos capazes de potencializar a qualidade de vida. No caso da evasão escolar, a maioria das adolescentes não estava estudando, pois a escola não favoreceu a permanência das mesmas, embora desejassem voltar a estudar. E, outro problema levantado foi a ausência de vagas em creches e conseqüente necessidade de trabalho e apoio parcial do pai da criança e amigos.
“Maternidade e adolescência, fragilidade nas redes de saúde, educação, trabalho, assistência social, cultura e lazer devem ser contextualizadas e discutidas a partir das políticas públicas vigentes, no intuito de operacionalizá-las, e de adequá-las, de forma integrada, para responder às necessidades reais da população”, afirma pesquisadora em sua tese.
Gravidez desejada
Entendendo que a maternidade na adolescência é um assunto de relevância interdisciplinar e intersetorial, Iara problematizou em sua pesquisa diversas áreas sociais de fundamental importância da qualidade de vida para a adolescente grávida. “A articulação dos serviços é extremamente importante para transformar esse quadro de fragilidades e vulnerabilidades, garantindo, efetivamente, os direitos”, sentencia.
A pesquisadora destaca ainda a necessidade de se pensar a gravidez na adolescência não apenas como um problema, mas, antes, como uma possibilidade de projeto de vida e afirma que “através do estudo, foi possível reverberar os sentimentos das adolescentes para quem muitas vezes a gravidez figura como algo que pode ser planejado e desejado.”
“Os resultados demonstram a necessidade de conhecer os projetos de vida, as aspirações que as adolescentes detêm, para que sejam repensados estratégias de prevenção, o planejamento familiar e a promoção de saúde que estejam de acordo com as necessidades deste grupo populacional.”