São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP (FO) comprova que cliente não quebrou o dente devido ao chocolate que mordeu. Apesar de pitoresca, Dalton Luis de Paula afirma que esta não é a única descoberta do tipo que o Departamento de Odontologia Social tem feito nos últimos tempos.
O caso chegou a FO há aproximadamente três anos. Um cliente enviou a uma empresa de doces pedaços de um chocolate e de um dente supostamente quebrado ao morder o doce da marca. A empresa entrou em contato com o Departamento, que resolveu estudar o acontecido. Para investigar se era possível ocorrer a fratura nestas condições, os pesquisadores desenvolveram um estudo que foi publicado em setembro deste ano no periódico científico Jornal of Forensic and Legal Medicine.
Os pesquisadores criaram dentes com condições mais baixas de resistência do que os fragmentos mandados pelo cliente. De acordo com as marcas deixadas na massa de chocolate, eles adaptaram um aparelho desenvolvido pelos professores Antonio Carlos Bombana, falecido antes da publicação do artigo, e Miriam Lacalle Turbino. O dispositivo simulava uma mordida e possibilitava que o movimento fosse testado com diferentes forças.
O chocolate foi deixado por duas horas a uma temperatura de 0ºC, supondo que ninguém o consumiria abaixo desta temperatura. Colocando o chocolate entre os dentes produzidos, os experimentos foram realizados com forças crescentes. Depois de aplicados 233.2 N (unidade de medida utilizada para indicar a quantidade de força), o chocolate foi quebrado, mas os dentes permaneceram intactos. A partir daí concluiu-se que a fratura do dente do cliente se deu graças a fissuras já existentes, que eram devidas a tratamentos dentários, e não por conta do chocolate. “Aquele dente quebraria com qualquer outra coisa”, diz Dalton. Este resultado foi suficiente para que houvesse comum acordo entre o cliente e a empresa brasileira.
Dalton acredita que fatos como este mostram como “o conhecimento tecnológico que temos [que a universidade tem] pode ser aplicado na vida cotidiana”. Ele conta que aceitar casos do tipo causa benefícios tanto para a sociedade, quanto para os estudantes do Departamento. A FO não recebe pagamentos para este tipo de pesquisa e Dalton explica que casos do tipo são abraçados pelo simples interesse científico. No entanto, ele admite que com esta interação “chegam muito mais casos tão ou mais pitorescos do que este para análise”.