São Paulo (AUN - USP) - O Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP lançou na última quinta-feira, 1º de novembro, o Projeto Corrupteca – Biblioteca Digital Internacional sobre a Temática da Corrupção. O projeto foi desenvolvido pelo NUPPs e seu lançamento é fruto de uma parceria com o Grupo Estado, que contribui com um levantamento de notícias sobre o tema a partir de seu acervo histórico.
O lançamento ocorreu no Auditório da Colmeia, na USP, e contou com a presença do pró-reitor de Pesquisa da USP, Marco Antonio Zago, o diretor científico do NUPPs, José Álvaro Moisés, o diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, e o desenvolvedor da Corrupteca, Giovanni Eldasi.
O projeto tem origem nas demandas identificadas e no encaminhamento das pesquisas do Núcleo. “As pesquisas vem trabalhando com temas fundamentalmente ligados à qualidade da democracia. Não basta reconhecer sua extensão eleitoral, é preciso atentar à sua qualidade”, apontou José Álvaro Moisés. Essa linha de trabalho resultou também em outro projeto lançado esse mês, o blog Qualidade da Democracia (http://qualidadedademocracia.com.br), desenvolvido e gerenciado pelo NUPPs. A Corrupteca, mais especificamente, surgiu de uma demanda dos estudos sobre desconfiança política. “Nos demos conta, a partir do estudo de alguns alunos, que havia necessidade de uma fonte mais robusta de informação”, explicou o diretor científico do Núcleo.
A Corrupteca é composta inicialmente por dois acervos. O primeiro, acadêmico, reúne trabalhos de mais de 1.600 universidades, de 63 países diferentes. Ele foi possibilitado pelo desenvolvimento da biblioteca digital a partir de um protocolo da OAI (Open Archives Initiative), organização internacional que viabiliza a formação de bibliotecas acadêmicas digitais pelo mundo todo. O pesquisador responsável por projetar a Corrupteca, Giovanni Eldasi, especialista em acervos digitais, explicou a estruturação do acervo a partir dos conceitos da Web 3.0, ou Web Semântica: “A Web 3.0 não tem mais só dados, como a 2.0, ela é uma web de significado. Hoje trabalhamos com palavras-chave, o salto que a Web 3.0 vai proporcionar é sair disso, sair da taxonomia para a semântica. Para isso, construímos um ‘ontologia da corrupção’, com pessoas do direito, políticos para fazer um levantamento de significados e relações entre os termos”.
O segundo acervo é composto pela parceria com o Grupo Estado e constitui uma hemeroteca sobre a corrupção, com notícias publicadas no jornal Estado de S. Paulo desde 1875. “Essa parceria é muito importante, pois no Brasil é a imprensa quem dá nome aos bois, é quem denomina os casos e, muitas vezes, é quem denuncia os casos de corrupção”, ressaltou Eldasi.
De acordo com os organizadores, a Corrupteca foi desenvolvida com o intuito de atingir vários públicos. Ela constitui uma plataforma rica para jornalistas, pesquisadores acadêmicos, juristas e cidadãos interessados no assunto. A ferramenta de busca baseada em concentradores de assuntos facilita a descoberta de documentos sobre casos semelhantes mesmo que os termos exatos de procura não coincidam. Além disso, a interface da página inicial já traz guias que agrupam informações específicas dos casos mais notórios de corrupção do País.
O próximo passo para o enriquecimento da biblioteca digital é a integração de um acervo de informações jurídicas, de processos digitalizados. “No caso do impeachment de Fernando Collor, por exemplo, existe um vasto material de processos jurídicos digitalizados que poderia ser integrado a essa ferramenta”, apontou Eldasi. A Corrupteca ainda é um projeto em construção, com sua base de dados a ser rapidamente expandida nos próximos meses, pretendendo chegar à meta de meio milhão de artigos agregados, segundo os organizadores. “Esse é o lançamento de um projeto que tem muito a crescer, não de um produto final”, explicou Eldasi.
O lançamento da Corrupteca foi seguido por uma mesa de debate sobre o assunto corrupção no Brasil, que contou com, além de José Álvaro Moisés, o pesquisador Bruno Speck, da Unicamp, que realizou um estudo sobre corrupção nos estados brasileiros, e com o diretor da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.