São Paulo (AUN - USP) - Em busca de um entendimento maior sobre a formação de nossa Galáxia, se iniciou em 2011 a pesquisa da dissertação de mestrado intitulada Caracterização de estrelas azuis tardias no campo galáctico, de Rafael Miloni Santucci, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Objetos de estudo do trabalho, as estrelas azuis tardias – tradução adotada para blue straggler stars – , são, segundo o pesquisador, estrelas velhas (pobres em metais) que se mostram aparentemente jovens quando comparadas à outras estrelas espacialmente próximas. A pesquisa busca contribuir para o entendimento da origem destes corpos celestes.
Segundo ele, as estrelas azuis tardias são encontradas comumente em aglomerados globulares, conjuntos de estrelas próximas entre si, ligadas gravitacionalmente. Esses aglomerados são ambientes de alta densidade estelar, contendo até centenas de milhões de estrelas predominantemente velhas, cuja coloração é amarelada ou avermelhada. Entretanto, ao observar esses ambientes em detalhes, são detectadas estrelas mais azuladas, característica típica de estrelas jovens. "A existência dessas estrelas nesses ambientes é explicada atualmente pela colisão, fusão e transferência de gás entre estrelas muito próximas. Como resultado dessas interações, temos uma estrela aparentemente mais nova, mais massiva e portanto mais azulada", explica o pesquisador.
Mais recentemente, os grandes telescópios possibilitaram aumentar o número de astros observados, pois são capazes de captar a luz de estrelas menos brilhantes. Com isso, milhões de novos objetos puderam ser analisados. Neste ponto, uma nova constatação foi feita a respeito das estrelas azuis tardias: elas passaram a ser observadas no campo galáctico, até fora de aglomerados, lugares onde a densidade de estrelas não é alta o suficiente para que ocorram colisões. Para complicar ainda mais o problema, a proporção de estrelas azuis tardias encontradas no campo é maior que a encontrada em aglomerados globulares.
O pesquisador explica que boa parte do trabalho de sua dissertação envolveu selecionar as candidatas a estrelas azuis tardias em grandes bases de dados, disponibilizadas online, levantadas por telescópios americanos depois de anos de observações. "A luz proveniente dos astros é analisada de forma minuciosa, podemos inferir através dela suas constituições químicas, temperaturas e até mesmo, no caso das estrelas, se as estrelas são gigantes ou não, estimando indiretamente a força gravitacional em sua superfície", explica.
Antes de sua pesquisa, a quantidade de estrelas azuis tardias encontradas fora de aglomerados estelares não ultrapassava poucas centenas de objetos. Utilizando sua metodologia de estudo, Rafael encontrou mais de oito mil. “A partir dessas descobertas é possível estabelecer uma nova frequência espacial das estrelas azuis tardias, que nos fez repensar a raridade do fenômeno, até cogitar a possibilidade de que algumas delas não tenham nascido na nossa Galáxia, como propuseram alguns cientistas há muitas décadas atrás.”
Uma das descobertas do estudo, a partir da seleção dos dados, envolveu a corrente de Sagitário, uma corrente de estrelas recém descoberta que se originou a partir da interação gravitacional da nossa Galáxia com uma galáxia anã. Comparando padrões de velocidades e distâncias das estrelas azuis tardias selecionadas em seu estudo, o pesquisador verificou que muitas delas podem pertencer a essa corrente, fato que contribui com a idéia de que ao menos uma parte desses objetos não nasceu por aqui.
A tese de mestrado da pós-graduação em Astronomia do IAG, defendida em 2012 e orientada pela professora Silvia Rossi, renderá um trabalho que será publicado em breve e um workshop internacional sobre o assunto realizado no Chile em novembro desse ano. “Esse evento tem o objetivo de reunir todo o conhecimento já levantado sobre as estrelas azuis tardias. É muito gratificante saber que nosso trabalho poderá contribuir para esse cenário”.