São Paulo (AUN - USP) - No primeiro dia da segunda edição doUSP Conference of Engineering, o professor Vahan Agopyan, pró-reitor de pós-graduação e professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP, discutiu sobre a importância de materiais de construção para a sustentabilidade com a platéia de professores, estudantes e profissionais da engenharia de diversas faculdades. O evento tem como objetivo refletir, durante os três dias de sua duração, sobre o futuro das engenharias no Brasil e no mundo.
O professor apresenta dados preocupantes sobre o consumo de materiais na sociedade, e principalmente, na construção civil. Cada habitante do planeta consome, em média, 10 toneladas de material por ano. Nos países desenvolvidos, esse número pode chegar a 85 toneladas. De todo esse consumo, 40% a 75% estão na indústria da construção civil: “Nós [da construção civil] somos responsáveis pela metade dos materiais consumidos na sociedade”, afirma o professor Agopyan.
Ainda segundo pesquisas acadêmicas, o consumo de cimento é maior do que até mesmo alimentos no planeta. O próprio concreto só perde para a água na tabela de produtos mais consumidos. Além disso, a cadeia de produção necessária para a obtenção do cimento consome um terço dos recursos naturais do planeta.
E o problema continua mesmo com a construção finalizada. Calcula-se que anualmente produza-se 500 quilos de resíduos de construção civil, o chamado “entulho”, para cada habitante da Terra. “Não nos demos conta de que a construção civil, por ser intensiva no consumo de materiais, tinha uma relação com o meio ambiente muito forte, muito dinâmica”, afirma Agopyan.
Por outro lado, a construção civil tem uma responsabilidade social que a impede de parar. O setor deve estar em constante crescimento. De acordo com Vahan Agopyan, “se pararmos, estamos deixando praticamente 80% da população mundial em condições de vida abaixo da considerada adequada”.
Desde a década de 1990, uma série de iniciativas vem sendo implantadas em diferentes países com o objetivo de reduzir os impactos no meio ambiente causados pela construção civil, como a reciclagem de materiais, a redução dos resíduos, concreto com maior vida útil, entre outros projetos.
No Brasil, discute-se a possibilidade de utilização da madeira na construção, por se tratar de um material renovável. Porém, o problema está na falta de estrutura de fiscalização dos produtos que chegam às construtoras e ao consumidor. “A extração convencional é o início da degradação da Amazônia. O Estado de São Paulo é o que tem um maior controle da legalidade da madeira. E mais da metade desse produto usado aqui no estado é ilegal”, exemplifica Agopyan.
O grande desafio do setor da construção é continuar crescendo sem ser tão danosa para a sustentabilidade do planeta. E o professor mostra que não há uma receita definitiva para isso. Nas palavras do professor, “apesar de não se poder frear a construção civil, do jeito que ela está nós não vamos conseguir atuar na sociedade. A construção civil precisa ser alterada, reinventada”.