São Paulo (AUN - USP) - Foi realizado nesta terça-feira, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA), o debate Israel-Palestina: Qual o papel das diásporas árabe-judaicas? Qual o papel do Brasil?, promovido pelo Grupo de Trabalho do Oriente Médio e Mundo Mulçumano, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
O evento teve início com uma breve palestra de Edward Kauffman, docente do Centro de Desenvolvimento Internacional e Gestão de Conflitos da Universidade de Marilândia. Em seguida, os professores Paulo Daniel Elias Farah e Peter Robert Demant, do Departamento de História da FFLCH, fizeram suas considerações.
Para Edward Kauffman, de ascendência judaica, a questão histórica entre judeus e palestinos demanda uma movimentação universal, não só em defesa dos direitos humanos, mas em função de uma possível ameaça iraniana. “Um acordo de paz israelense-palestino realmente pode neutralizar o perigo nuclear do Irã”, afirma. Segundo ele, tal entendimento entre as partes deslegitimaria o suposto armamento de Teerã “em defesa dos direitos palestinos”.
“Do outro lado, os judeus carregam um medo histórico de perseguições e holocaustos, que implica na aspiração de seu povo por um acordo de paz.” O docente acredita, portanto, ser necessária uma flexibilização política de ambos os lados. “Israelenses e palestinos estão condenados a viver juntos... ou estão condenados a morrer juntos.”
Segundo Kauffmann, é no intermédio de uma aceitação mútua que o Brasil, assim como outros países latino-americanos, encontraria seu papel. Judeus e palestinos vivem no país há décadas e um primeiro movimento em sentido da paz poderia ocorrer aqui, entre religiosos mais moderados. “No Oriente Médio, as diásporas originaram grupos mais radicais, que tornam acordos muito mais complicados”, ressalta.
Após a palestra introdutória, Paulo Daniel Elias Farah deu início ao debate. Descendente de árabes, o docente defendeu a importância do respeito aos direitos humanos e da concessão de um espaço aos palestinos. “Perder a terra natal é sempre conflituoso, não importa para quem.” Em concordância com Kauffmann, Farah também destacou a importância de uma aproximação entre as duas etnias. No entanto, o apagamento de suas identidades não seria uma solução pacífica. “Devo concordar que o que falta ainda aos palestinos é uma educação pela paz. Estimular o conhecimento, sim, seria um caminho mais certo a se seguir.”
Peter Robert Demant, de ascendência judaica, teve seu discurso marcado por concisão e frases de efeitos. Crítico de sua própria etnia, afirmou que os israelenses “nunca perdem a oportunidade de perder uma oportunidade” Segundo ele, a paz não pode vir de outra maneira que não pela concessão de terras aos palestinos. No entanto, dado que suas religiões e estados os impedem incondicionalmente de abrir mão da terra santa, um acordo tornar-se-ia cada dia mais difícil.
Por fim, Demant afirmou que “Israel veio para ajudar os judeus e não os judeus para ajudar Israel.” Retomando a fala de Kauffman, ele lembrou que a necessidade de um estado veio das perseguições sofridas pelo povo judaico. Entrar em guerra para disputar terras seria, em sua concepção, algo contraditório.