São Paulo (AUN - USP) - Sabe-se que a alergia alimentar causa efeitos físicos dos mais diversos tipos quando ingerimos o alimento ao qual temos sensibilidade. Inchaço, coceira, falta de ar e garganta fechada são apenas alguns dos exemplos de reações alérgicas que os alimentos podem provocar. O que não se sabia até então é que a reação alérgica (e, portanto, imune) causa alterações de comportamento e até mesmo estresse (e, portanto, neurológica).
O pesquisador Alexandre Salgado Basso, doutorando pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, orientado pelo professor João Palermo Neto, desenvolveu uma pesquisa que pode mudar o modo como é vista a alergia alimentar e seus efeitos fisiológicos nos animais.
A experiência consistiu em separar dois grupos de camundongos e sensibilizar um dos grupos com ovalbumina (substância presente na clara do ovo) e, dessa forma, torná-los alérgicos a essa substância. Numa próxima etapa, nos viveiros dos dois grupos, colocou-se um bebedouro com água natural e outro com uma solução adocicada contendo ovalbumina. Verificou-se, então, que, no grupo de camundongos não sensibilizados, em 100% dos casos os animais preferiram beber a substância adocicada, enquanto que, no grupo sensibilizado, preferiu-se a água natural, também em todos os casos. Dessa forma, provou-se que a alergia causa mudanças de comportamento em animais, induzindo, nesse caso específico, aversão à substancia que, em condições normais, seria a preferida dos camundongos.
Em uma segunda fase do teste, forçou-se a ingestão da solução adocicada contendo clara de ovo nos animais alérgicos. O que se observou, então, foi uma produção de estresse nos animais, confirmando as expectativas de Basso de que a interação entre o sistema imunológico e o nervoso central é maior do que se imagina. A partir daí, o pesquisador direcionou sua pesquisa em demonstrar fisiologicamente como acontecem essas reações e relações entre o sistema imune e o sistema nervoso central no caso específico da alergia. O resultado de seu trabalho foi apresentado recentemente em sua tese de doutorado.
Essa é mais uma demonstração feita pelo grupo de professores e alunos que já há alguns anos vêm desenvolvendo pesquisas na área da neuroimunomodulação (de como o sistema imune pode afetar o sistema nervoso central e vice-e-versa), coordenados pelo professor João Palermo Neto.