São Paulo (AUN - USP) - Em um mundo em que a tecnologia se alia cada vez mais a atividade física, estudar o aspecto estratégico-tático dos esportes coletivos é uma ação que pode gerar grandes frutos. A tese de doutorado de Leonardo Lamas está contida no contexto de um projeto interdisciplinar com pesquisadores da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) e do Instituto de Matemática e Estatística (IME), ambos da Universidade de São Paulo. Além de Lamas, os pesquisadores Carlos Ugrinowitsch, Junior Barrera e Guilherme Otranto participaram da pesquisa relatada na tese.

Lamas explica a escolha do tema da pesquisa que tem por nomeModelagem estratégico-tática em esportes coletivos de invasão: aplicação ao basquetebol: “Embora de fundamental importância para a prática de qualquer esporte coletivo, a estratégia e a tática haviam sido muito pouco investigadas cientificamente. É possível encontrar publicações que discutem qualitativamente esses conceitos, porém, nenhum desses estudos apresenta um modelo formal desses conceitos”.

Apostando na experiência e sem muita base para estudo, os técnicos dos esportes coletivos por vezes constroem estratégias muito interessantes. Contudo, o pesquisador acredita que pode haver muitas melhoras: “No dia em que a ciência contribuir para a precisão do que se produz nesse campo, a prática poderá alcançar níveis bem acima dos atuais, além de ter mais garantias de sua eficiência”. Segundo ele, a área estratégico-tática é complexa e é necessário que haja uma interdisciplinaridade para realizar pesquisas de vanguarda como essa.

Sobre a abordagem inovadora, Lamas afirma: “A estratégia em esportes coletivos não havia sido modelada até então e propusemos um modelo no qual ela é definida como um sistema dinâmico discreto-contínuo, em que as jogadas podem ser descritas com grande precisão”. Segundo o pesquisador, é importante mostrar para a comunidade acadêmica e para os técnicos esportivos que há possibilidade de desenvolvimento de uma teoria sobre esses esportes. “Pode ser que quem ficar alheio a essa teoria, a médio prazo, terá seu espaço no mercado de trabalho comprometido pois com o aprendizado sobre o fenômeno, provavelmente, o que levava 30 anos para se aprender sobre o jogo, estará disponível em um curso de graduação.”

A importância do uso da tecnologia, para Lamas, é inestimável: “A tecnologia deve ser bem direcionada, caso contrário pode-se dispender muitos recursos e tempo no desenvolvimento e utilização da própria tecnologia sem que a orientação do seu uso seja adequada”, afirma. Por esse motivo, os procedimentos são realizados em etapas: “Nos preocupamos com o desenvolvimento teórico do modelo proposto e agora estamos avançando com o desenvolvimento tecnológico, sem que, em paralelo, o desenvolvimento teórico seja interrompido”.

A metodologia utilizada foi diversa, como explica o pesquisador: “É difícil definir uma metodologia em particular porque cada problema de pesquisa foi e será resolvido de acordo com um referencial teórico distinto do outro”. Para a estratégia, definida como um sistema dinâmico, valeram-se da teoria dos grafos para realizar sua representação. Dessa forma, as especificações das jogadas são definidas por estados, caracterizados como nós de uma grande rede que indica, de forma visual, a complexidade da estratégia planejada. Já na modelagem do sistema, foi empregada uma linguagem de representação de fluxos lógicos que descrevem a dinâmica do jogo.

Na realização de uma pesquisa tão aprofundada, há muitas dificuldades: “A maior dificuldade foi, sem dúvida, partir do zero. Não havia, como de costume, suporte de literatura”. Levado isto em conta, o pesquisador exalta o trabalho do grupo: “Esse pioneirismo abrilhanta o trabalho, pois a magnitude da contribuição nestas circunstâncias é muito maior. Imaginamos que esse trabalho inaugura uma área de estudo, até então, sequer entendida por muitos como uma possível área de estudo”.

Por fim, Lamas expôs as conclusões obtidas: “O principal resultado é sem dúvida, dispormos agora de um ponto de partida e algum caminho percorrido de uma teoria quantitativa dos esportes coletivos”. O pesquisador ressalta os desdobramentos que essa teoria pode resultar: “Essa teoria permitirá seu próprio aperfeiçoamento e suporte teórico para pesquisas que poderão se valer de definições comuns de conceitos e especificações para investigações em análise do jogo, treinamento e planejamento de equipes”.