ISSN 2359-5191

27/11/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 117 - Meio Ambiente - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisa do ICB estuda peixe antártico para monitoramento ambiental

São Paulo (AUN - USP) - Um estudo de mestrado realizado por Afonso Braga Bartolini Salimbeni Vivai no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP teve com objetivo detectar os efeitos da fração solúvel do petróleo (FSA) no peixe antártico Trematomus newnesi. Com isso, pretendeu verificar se esse animal seria um bom bioindicador – espécies que podem indicar uma alteração ambiental – para o petróleo e se as brânquias, o fígado e o sangue seriam bons biomarcadores – órgãos, tecidos ou moléculas que são analisadas e testadas para ver se demonstram alguma alteração. “Se você vê alguma alteração no animal, você suspeita que o ambiente foi modificado”, explica o professor José Roberto Machado Cunha da Silva, orientador da dissertação. Assim, é possível fazer um monitoramento ambiental e até deduzir se no passado aquele meio teve uma alteração severa.

A pesquisa envolveu uma expedição à Estação Antártica Brasileira “Comandante Ferraz” e teve parceria de diferentes institutos. Participaram da viagem o professor orientador, a equipe do Instituto de Oceanografia (IO) da USP, liderada pelo professor Vicente Gomes e uma equipe das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), liderada pelo professor João Carlos Shimada Borges.

O projeto inicial era de Borges, também relacionado com bioindicação, só que com um ouriço do mar. No entanto, ao jogar a rede de arrasto, vinham, além dos ouriços, os peixes Trematomus newnesi. Esse material colhido foi aproveitado para um novo projeto de pesquisa. “Quando a gente está em uma expedição já estamos pensando na próxima, porque é difícil você voltar para a Antártica”, conta Borges. Essa dificuldade se deve as burocracias envolvidas na expedição e ao alto investimento necessário.

O processo
Depois da coleta dos peixes, eles foram colocados em pequenos aquários com a própria água da região – considerada, até então, uma água com poucos poluentes por ser da região Antártica. Um dos aquários foi com a água, teoricamente, sem alteração. Ele é usado como controle para futuras comparações. Nos outros, foram colocadas concentrações de 10% e de 20% de fração solúvel do petróleo. A FSA foi utilizada pois quando acontecem acidentes graves, a mancha do petróleo é removida e aparentemente, a água fica sem poluentes. “A gente pensa que está tudo resolvido, mas a fração solúvel a gente não enxerga porque está dissolvida na água. Então, mata os peixes, mas ninguém vê”, explica Silva. Por isso, a importância de se estudar a FSA. Depois de deixar os animais nas concentrações de petróleo, eles foram sacrificados e fixados.

Em seguida, foi feita a análise e o processamento das brânquias e do fígado, no Laboratório de Histofisiologia Evolutiva do ICB. Alfonso explicou que as brânquias foram estudadas porque elas são a interface do sangue com a água, é um órgão que tem contato direto com o meio. Os contaminantes chegam no sangue através delas. O fígado foi escolhido porque é ele que processa substâncias estranhas ao corpo. “A gente olhou no microscópio as alterações que esses órgãos viriam a ter pela exposição ao poluente”, conta Alfonso.

As alterações são medidas por análise morfológica e por proporções de células. “Na brânquia, existe uma célula que secreta muco, para proteger. Então, se a quantidade dela aumenta muito quer dizer que aquele tecido sofreu uma irritação. São os indicadores indiretos”, explica Silva. Já no fígado, é analisada a estrutura do órgão, ou seja, se ele está com a mesma forma, se há presença de necrose ou de aneurisma (acúmulo de sangue). É observado também se há células de defesa migrando para a região, o que indica uma possível lesão.

O sangue dos peixes foi analisado pelo professor do IO Vicente Gomes após um esfregaço – quando o sangue é espalhado na lâmina para ficar apenas uma camada de células e depois faz a contagem. As células vermelhas do sangue tem núcleo e quando há alguma alteração no ambiente, ele se fragmenta em micronúcleos.

No entanto, no próprio controle, essa alteração já foi observada. As brânquias e o fígado dos peixes estressados pelo petróleo quando comparados com o peixe controle, também não apresentaram diferenças significativas em termos estatísticos. Como o peixe que foi submetido a uma água, teoricamente, livre de poluentes aromáticos do petróleo apresentou alterações, a hipótese é de que o ambiente esteja contaminado. Apesar do resultado não ser o esperado, o estudo pode ser um impulso para novas pesquisas sobre a condição do mar próximo à Antártica. “Novos experimentos devem ser realizados ou os protocolos devem ser adequados para uma realidade que ainda não se conhecia. Não dá mais para considerar a Antártica como ambiente intocável e livre de ação humana”, conta Borges.

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