São Paulo (AUN - USP) - No começo de novembro ocorreu na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP o seminário de história econômica Família Teixeira Vilela e o padrão de riqueza e de endividamento. Campinas, São Paulo, 1850-1873. A apresentação faz parte dos Seminários de História EconômicaHermes & Clio, do grupo de estudos e pesquisa homônimo.
A palestrante Maria Alice Rosa Ribeiro, pesquisadora do Centro de Memória da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), apresentou sua pesquisa sobre a influente família Teixeira Vilela e concluiu: “O escravo era braço (mão-de-obra) e garantia para os credores. Assim, era o ativo financeiro mais valorizado nos componentes da riqueza de alguém”, ao menos na realidade econômica do sudeste brasileiro do século 19.
Para chegar a essa constatação, ela usou fontes como documentos do poder judiciário, registros de cartório, almanaques e recenseamentos. Segundo Maria Alice, o objetivo do estudo de caso é comparar as formas de riqueza e financiamento de Antônio Manuel Teixeira (1795-1850), produtor de cana, e seu filho, Francisco Teixeira Villela (1829-1873), cafeicultor.
Maria Alice introduziu o tema com uma tela de Hercule Florence chamada Corte da cana-de-açúcar, Engenho da Cachoeira, 1848, que retratava o engenho de Antônio Manuel, que foi deputado e comendador – recebeu a primeira comenda de Campinas. Ele nunca se casou, mas teve um filho, Francisco, de mãe desconhecida - possivelmente uma escrava – e que foi seu herdeiro universal.
Antônio Manuel não tinha uma produção muito diversificada e atuava apenas nas áreas de transporte, com tropas e construção de estradas, e produção de açúcar. Quando morreu, em 1850, deixou uma alta dívida ativa (em que ele devia para credores). No entanto, Maria Alice explica que, em seu inventário todas essas dívidas aparecem pagas e todas as pendências resolvidas. Seus bens e escravos foram vendidos ou dados a credores como pagamento. Ainda assim, uma pequena herança foi deixada a seu filho.
Na ocasião da morte de Francisco, o cenário era diferente. Ele tinha muitas dívidas com valores diferentes para diversos credores e a garantia que tinha dado para pagá-las eram, em geral, seus escravos. No entanto, os mesmos escravos estavam garantidos para diferentes credores, o que impossibilitou uma divisão imediata. Além disso, alguns credores haviam falido e suas dívidas passivas (que devem receber de um terceiro) foram passadas para seus credores.
“Suponho que a dívida fosse para sustentar a atividade produtiva principal, pois os credores eram capitalistas (banqueiros, pessoas ligadas ao mundo financeiro e de crédito) e comerciantes”, diz Maria Alice. Ela completa: “Além disso, a garantia com escravos era muito arriscada”.
O inventário de Francisco foi inconclusivo. No entanto, a pesquisadora aponta que a solução encontrada pelo conjunto de seus credores foi que um deles, o Banco Rural Hipotecário do Rio de Janeiro, administrasse seus bens para poder pagar os credores. Assim, o banco geriu os escravos e vendeu o Engenho da Cachoeira, e a plena quitação das dívidas foi efetuada apenas em 23 de dezembro de 1893, 20 anos após a morte de Francisco.