São Paulo (AUN - USP) - No dia 27 de novembro, o professor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) José Gustavo Féres apresentou, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, uma palestra sobre os impactos climáticos na agricultura brasileira. O evento foi uma apresentação do artigo Assessing the impacts of enso-related weather effects on the brazilian agriculture, cuja pesquisa foi desenvolvida pelo palestrante em conjunto com Eustáquio Reis, também do IPEA, Paulo Araújo e Marcelo José Braga, ambos da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
O estudo focou nos fenômenos El Niño e La Niña. O primeiro é o aquecimento das águas do Oceano Pacífico e o La Niña é o contrário, é o resfriamento das águas do Pacífico. A pesquisa atende a demandas do IPEA e do Ministério do Meio Ambiente, já que é um problema climático atual e de muita importância. “Esses fenômenos tem um impacto global já que afetam a agricultura e, consequentemente, a economia em diversos países”, explica Féres. O El Niño, por exemplo, causa inundações nos Estados Unidos, Índia e Paquistão, e secas extremas na Austrália.
No território brasileiro, os efeitos também são distintos. Na pesquisa foram analisadas as regiões Sul e Nordeste, porque são as mais afetadas. Quando acontece o El Niño, ocorrem chuvas fortes e as temperaturas são altas no Sul. Já no Nordeste, ocorrem secas severas. A situação se inverte com o La Niña: no Nordeste há o aumento das precipitações que são intensas e concentradas, o que provoca inundações, e na outra região predominam estiagens prolongadas.
A metodologia de pesquisa se dividiu em três etapas. A primeira foi uma análise da relação entre a temperatura do Oceano Pacífico e a climatologia dos municípios brasileiros. Esse estágio foi feito para entender a heterogenialidade dos climas do país através de um cruzamento entre a temperatura da água e as coordenadas geográficas do lugar. A segunda etapa foi a dedução de equações reduzidas para ver de que modo temperatura e precipitação se relacionam com a produtividade agrícola. Depois dos parâmetros estimados foi realizada a terceira a parte, uma simulação dos efeitos do El Niño na produtividade através da comparação entre os anos neutros, em que não houve alteração das águas, e os anos de presença dos fenômenos. Com essa metodologia e com as equações, foi possível ver como a produtividade de cada cultura respondeu às variações.
As quatro principais culturas de cada região foram analisadas de acordo com a sua produtividade média. No Nordeste foram consideradas as de cana-de-açúcar, mandioca, milho e feijão. A cana-de-açúcar e a mandioca sofrem pouca queda de produção, respectivamente , 4,3% e 5,3% com o El Niño, e 0,3% e 0,5% com o La Niña. São alimentos que respondem menos às alterações climáticas. Já com o milho e o feijão, o El Niño provoca um grande impacto, ambos perdem aproximadamente metade da sua produção. A região do Nordeste mais afetada é o cerrado da Bahia, por conta da seca, o que provoca perdas relevantes na produção de grãos.
Na região Sul, as culturas estudadas foram de milho, soja, arroz e trigo. O principal impacto do El Niño é com a soja, que perde quase 80% da safra. O milho também é muito afetado com queda de 40,5%. Já a produção de arroz não sofre muito, a perda é de apenas 0,4%, já que a cultura é feita em água. O La Niña é um fenômeno mais severo para a região Sul, o trigo perde 85,9%, o milho 51,9%, o arroz 11,7% e a soja 26,2%. Isso se deve às estiagens prolongadas.
Por enquanto, o custo econômico não foi estimado, apenas a perda de produtividade. O estudo também apontou diferenças regionais importantes, principalmente nas culturas intensivas em água e na agricultura de sequeiro (quando não há irrigação). Além disso, a pesquisa mostrou que uma das alternativas para que as culturas fiquem menos sujeitas a esse tipo de impacto é investir em métodos de irrigação.