São Paulo (AUN - USP) - “Verificar como os presidentes de empresa descrevem sua carreira e fatores de sucesso”. Esse foi um dos objetivos de Maria Tereza Gomes em sua tese de doutorado Carreira de presidentes de empresas: a jornada do herói corporativo pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA). Defendida em outubro, a tese busca comparar as falas de alguns presidentes de empresas com o conceito do “monomito”, ou “Jornada do Herói”.
Criado por Joseph Campbell, o monomito procura definir alguns padrões da jornada cíclica presente frequentemente em narrativas e se divide em 17 estágios, como “O Chamado da Aventura”, fase da história onde o problema é apresentado ao herói. Maria Tereza, que possui experiência de 26 anos como jornalista especializada em negócios e foi diretora de redação da revista Você S/A, analisou entrevistas de 12 presidentes de empresas feitas por ela para a IdealTV, canal de televisão por assinatura do Grupo Abril que existiu de 2007 a 2009, e procurou padrões que pudessem ser relacionados aos estágios da “Jornada do Herói”.
A pesquisadora destacou a importância de sua experiência jornalística na redação da pesquisa. “Definitivamente, a maior ajuda foi na hora de escrever. A experiência jornalística não apenas nos dá facilidade para colocar letrinhas no papel, mas nos ajuda principalmente a organizar a informação de maneira muito prática.” No entanto, Maria Tereza afirma que isso também lhe trouxe dificuldades, por não estar habituada a seguir uma metodologia de pesquisa. “O trabalho jornalístico exige criatividade, pensar diferente, fugir das regras. Afinal, cada reportagem precisa ser diferente da anterior. Aprendi que em uma pesquisa científica, seguir padrões, regras, é fundamental.”
Como resultado das associações das falas dos entrevistados aos estágios do monomito, a temática “Caminho das Provas” foi a mais encontrada e representa a descrição dos desafios que os presidentes tiveram que percorrer para chegar ao sucesso na carreira profissional. Também houve destaque para o estágio “Mundo Comum”, em que os entrevistados descrevem como era a sua vida antes de começarem a “jornada” rumo à presidência, com ênfase nas dificuldades financeiras sofridas na infância.
Outro tema que chamou a atenção da pesquisadora foi a relação dos presidentes com a aposentadoria, principalmente pelos entrevistados estarem na faixa etária de 58 a 62 anos, já na fase final da carreira. “Como todos nós, para eles esses são momentos de muita insegurança e dificuldades para deixar o cargo. O maior problema, eu creio, é perceber que sua trajetória cheia de aventuras, lutas e vitórias está chegando ao fim.”
Em sua dissertação, Maria Tereza ainda discorre sobre as limitações da própria pesquisa e destaca que “como toda pesquisa qualitativa, os resultados não pretendem representar a totalidade dos presidentes de empresa do Brasil”. Também é necessário considerar as condições de obtenção das entrevistas, que incluem as câmeras, iluminação, enfim, todo o aparato necessário na televisão, além do perfil dos entrevistados, todos do sexo masculino e na mesma faixa etária.
Após analisar as carreiras de sucesso dos entrevistados, a pesquisadora comentou o aprendizado que isso trouxe para sua vida. “Na vida, precisamos entender quais chamados devemos atender – são eles que vão definir a nossa jornada. Como os presidentes de empresa, os chamados a serem aceitos são aqueles que dizem respeito ao que gostamos de fazer, a aquilo que nos faz brilhar os olhos”, afirma Maria Tereza, que completa: “Portanto, a minha lição é estar atenta aos chamados para a aventura.”