ISSN 2359-5191

06/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 124 - Saúde - Instituto de Psicologia
Instituto de Psicologia promove evento sobre saúde indígena

São Paulo (AUN - USP) - No dia 22 de novembro, o Instituto de Psicologia (IP) da USP promoveu uma mesa temática sobre saúde indígena, intitulada Psicologia e saúde indígena: políticas públicas e possibilidades de atuação. O evento foi promovido pela disciplina Psicologia da Saúde, ministrada pelo professor Danilo Silva Guimarães.

A mesa de debate contou com a presença das lideranças indígenas Emerson Souza, da tribo Guarani Nhandeva, e Maria Cícera de Oliveira, dos Pankararu, ambos membros da coordenação do projeto Pindorama, realizado pela PUC-SP, que é voltado para a integração do indígena ao meio universitário. Também estiveram presentes Vanessa Caldeira, antropóloga e membro da ONG Operação Amazônia Nativa (Opan) e Elisabeth Pastore, psicóloga social e clínica, ex-responsável técnica pela área de Saúde Mental Indígena do Estado de São Paulo.

Com o objetivo de aproximar a temática indígena dos universitários, o líder indígena Emerson Sousa iniciou as falas. Ele disse que a falta de unidade entre os movimentos que lutam pelos direitos indígenas impedem que uma mudança realmente significativa aconteça. “Existe um grande grupo que precisa se articular. Houve uma fragmentação em São Paulo, com a importância da Funai passando a ser para Funasa, que foi se terceirizando até chegar nas ONG’s e assim por diante. Isso é ruim. Hoje os órgãos tem pouca proximidade com a causa.”

Ele deu como exemplo positivo o movimento do qual participa, o Conselho de Articulação Indígena. O grupo se reúne de duas a três vezes por ano e tenta focar na questão da saúde. Eles criticam o trabalho que o governo e os órgãos responsáveis realizam, pois acreditam que o que está sendo feito é uma partidarização da saúde e não uma tentativa real de melhoria de condições de assistência.

O excesso de frentes de luta não facilita na validação de seus direitos, pois acaba dividindo forças, que não se conversam. “Às vezes os movimentos se perdem dentro de sua própria história. Temos muitos movimentos e poucas lutas”, diz ele.

Preconceito
Emerson Sousa falou do preconceito que o indígena sofre todos os dias. “Se você está em São Paulo, você não é índio.” Maria Cícera completou a fala com uma reflexão profunda, que comoveu a plateia. “Mas como que alguém pode deixar de ser o que é porque está fora da sua casa?”

Maria Cícera destacou a inclusão educacional como importante para quebrar esse preconceito. Nesse ponto se evidencia a importância do evento, que tem como um de seus objetivos levar o indígena para a universidade e tornar essa temática conhecida dentro do meio acadêmico. O projeto Pindorama, desenvolvido na PUC, atualmente reserva 12 vagas para indígenas no vestibular. Maria Cícera fez parte da primeira turma e atualmente faz parte de sua coordenação. Ao todo, já passaram 141 estudantes pelo projeto – ainda que nem todos tenham se formado, por conta de dificuldades que surgiram ao longo do caminho.

Ela diz que, na área da saúde, falta preparo para lidar com o indígena. Essa função cabe aos municípios, mas estes não aguentam a demanda de ter que lidar com diferentes tribos, de diversas etnias a todo o tempo.

Assistência
A antropóloga Vanessa Caldeira e a psicóloga Elisabeth Pastore deram exemplos de vivências que passaram por suas carreiras. Ambas destacaram a importância de uma equipe multidisciplinar na hora de prestar assistência nas aldeias. “Já cheguei a ser informada de que não havia recursos para contratar profissionais e que a assistência seria feita apenas por mim”, diz Elisabeth.

O psicólogo realiza atendimentos e terapias. O livro Psicologia e povos indígenas foi uma iniciativa do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo para popularizar a informar sobre o tema. Os exemplares são distribuídos gratuitamente.

Vanessa diz que as universidades devem aumentar seus projetos de expansão e se aproximar das comunidades. “Sempre me pergunto como a antropologia pode contribuir. Mais do que produzir conhecimento, precisamos saber o que está sendo feito com esse conhecimento, pois ao longo da história muita coisa negativa já foi feita com ele. A universidade precisa se voltar para as comunidades e ver onde estão usando o que ela produz”, diz ela.

Em seus projetos, realizados junto à ONG's, Vanessa desenvolveu diversas oficinas – lúdicas, corporais e artísticas – no sentido de se aproximar do índio para, então, passar conceitos importantes de saúde. “O mais importante, talvez, tenha sido lhes dar liberdade. As oficinas não eram obrigatórias, eles podiam dizer não.” Durante e depois das oficinas, a equipe de antropólogos conversava com os membros da aldeia, de maneira informal. Nesses momentos surgiram comentários sobre o que lhes incomodava no sistema de saúde: não entender diagnósticos, ter cirurgias desmarcadas, explicações dos médicos que não faziam sentido, entre outros.

Depois disso, a equipe fazia o intermédio com o grupo médico, para alertá-los desses incômodos. “Conversávamos com as enfermeiras, por exemplo, para dizer-lhes que é preciso explicar tudo com calma e, se for preciso, explicar de novo. É fundamental que o índio entenda os procedimentos do atendimento.”

Perspectivas para o futuro
Emerson Sousa acredita que a situação começa a mudar quando o próprio indígena se insere na questão. “Ver índios se elegendo vereadores é esperançoso, pois eles podem trazer um novo modelo criado por alguém que está inserido na questão e não por alguém de fora.”

Abordar a temática no meio universitário e na mídia também é fundamental, segundo eles. A sociedade não pode fechar os olhos para as temáticas indígenas – com a questão da saúde se inserindo nesse contexto. “Espero que as pessoas repassem essa mensagem, porque isso vai motivar mais pessoas, vai incomodar mais gente e, quem sabe, pode ser o começo de uma mudança real e positiva”, completa Maria Cícera.

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