São Paulo (AUN - USP) - São Paulo é uma cidade conhecida por receber muitos imigrantes, que vêm buscar melhores condições de vida. No entanto, o sonho de uma vida melhor não se realiza facilmente e muitos, principalmente mulheres, acabam buscando ajuda em instituições dedicadas a isso. Foi com a intenção de analisar a luta dessas mulheres que Ana Cecília Weintraub fez a pesquisa que resultou na tese de mestrado Itinerários percorridos por mulheres migrantes estrangeiras na cidade de São Paulo: modos de fazer a vida na cidade, defendida em setembro pela Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP).

O estudo foi desenvolvido por meio de uma instituição religiosa de São Paulo que recebe mulheres estrangeiras, onde cinco mulheres foram selecionadas, “três solicitantes de refúgio, uma imigrante e uma egressa de sistema prisional, propondo-se a pesquisadora a acompanhá-las, em diferentes períodos e situações, nas suas atividades cotidianas”. Assim, Ana Cecília foi capaz de mapear o itinerário dessas mulheres pela malha urbana paulistana, além de conhecer de perto como se dá a vida delas.

A autora destaca ainda como a experiência trouxe aprendizados e a permitiu ver melhor a dinâmica da cidade. “Sobretudo aprendi muito sobre as pequenas e diárias batalhas que elas (e muitas outras pessoas) travam na nossa cidade”, afirma Ana. “Descobri que a cidade, apesar de tão confusa e caótica, pode também ser acolhedora, pode facilitar certos caminhos e pode fornecer algumas possibilidades de reconstrução de vidas muito interessantes.”

Apesar de se utilizar de uma instituição como forma de partida para o contato com as mulheres, ela percebeu, ao acompanhar parte da vida delas, que “as relações de ‘ajuda efetiva’ se dão, principalmente, nos espaços fora das instituições: nas redes de sociabilidade criadas e nos espaços acessíveis da cidade”.Mas ressalta: “Sem negar, no entanto, a importância dos espaços institucionalizados”.

A pesquisadora ainda comentou sobre a influência que uma cidade gigante como São Paulo possui na qualidade de vida dessas mulheres, facilitando a sua inclusão e suas oportunidades de conseguir uma vida melhor. “É claro que há dificuldades para quem chega de fora se entender na malha urbana de São Paulo mas, uma vez percebidos os principais caminhos, é bem mais fácil encontrar novas possibilidades do que, por exemplo, em uma cidade menor.”

Sobre as perspectivas da situação dessas imigrantes no Brasil no futuro, Ana Cecília destaca dois pontos principais. Primeiro, a necessidade de um aprimoramento das instituições de apoio, para que “elas possam, cada vez mais, levar em conta as histórias de vida, a cultura, a língua, a religião, a moral e os interesses dessas pessoas em seus modos de prestar assistência”. O segundo ponto trata da busca para incentivar a divulgação sobre o tema dos imigrantes para que ele “seja cada vez mais debatido e interligado à vida da cidade: com os grandes eventos como a Copa do Mundo, por exemplo, a cidade poderia experimentar novas formas de acolher melhor os estrangeiros que aqui chegam”.

Vale ressaltar também que a questão da imigração é muitas vezes debatida sob os pólos da compaixão ou da criminalidade: ou o imigrante é uma vítima, ou um criminoso – esse modo de compreensão da migração pode turvar o olhar para os diversos matizes das situações vividas pelas pessoas que aqui chegam, dificultando a assistência e a integração nos espaços da cidade.