São Paulo (AUN - USP) - Os conflitos entre produtores e a indústria são uma tônica em diversas áreas do agronegócio no Brasil. A pesquisadora Silvia Caleman, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) explorou a temática no ramo da carne bovina, em tese de doutoramento pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA).
A pesquisa Falhas de coordenação em sistemas agroindustriais complexos: uma aplicação na agroindústria da carne bovinarendeu a Silvia o Prêmio Capes de melhor tese na área de administração, ciências contábeis e turismo, e teve a orientação do professor Decio Zylbersztajn, da FEA. "Esse prêmio representa o reconhecimento de um trabalho que demandou um grande esforço pessoal e profissional", conta a pesquisadora, que precisou deixar o trabalho e a família em Campo Grande (MS) para dar continuidade à pesquisa.
O foco da tese está no papel de instituições formais (esferas do judiciário) e informais (associações de produtores, alianças mercadológicas, entre outras) como formas de prover garantias na relação entre pecuaristas e industriais frigoríficas, resolver conflitos e minimizar a possibilidade de erros nas empresas. “A temática da ocorrência de falhas é complexa, pois envolve diferentes dimensões interdependentes”, explica a pesquisadora.
O conflito nasce a partir de uma clássica rivalidade entre produtores e industriais, numa relação que é pautada pela desconfiança mútua. O problema maior reside na falta de instituições eficientes para dar suporte às transações entre produção e indústria e a alegada dificuldade em estabelecer uma estrutura de incentivos que contemple o necessário alinhamento de preços e recebidos e pagos pela indústria, independentemente dos avanços tecnológicos do setor. A problemática gera altos custos nas transações, que nascem a partir da ineficiência ou inexistência de garantias que contemplem as negociações entre pecuaristas e industriais.
Além da parte institucional, as falhas organizacionais surgem também a partir do pouco tempo de interação entre agentes, problemas informacionais e até mesmo direito de propriedade sobre o gado. Os conflitos também se estendem para a área de varejo e comercialização do produto final. Silva destaca, também, que tais conflitos não são exclusividade do agronegócio da carne bovina. “O conflito é parte inerente às relações humanas e deve ser investigado em prol da minimização da ocorrência de falhas”, diz.
Entre as possíveis soluçõesestão a identificação de mecanismos que tragam maior agilidade nas decisões judiciais e a revisão de normas para licenças de operação para novas empresas no setor bovino. Além disso, segundo a pesquisadora, outras estratégias como a adoção de mecanismos privados que configurem maior segurança às transações (venda eletrônica de gado para abate com parte do pagamento antecipado, por exemplo) podem atenuar as falhas organizacionais do setor.