São Paulo (AUN - USP) - Estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP propõe o uso do desenho conjunto na entrevista familiar. O mecanismo é proposto durante a entrevista coletiva, na qual todos os membros do núcleo familiar estão presentes na conversa com o psicólogo. Os membros devem se articular e se organizar para realizar um desenho único. “Esse momento de organização diz muito sobre a dinâmica daquela família”, afirma a psicóloga Maria Regina Brecht Albertini, realizadora da pesquisa.
O desenho já é um mecanismo usado por psicólogos, mas individualmente, ou seja, é proposto que apenas um membro da família faça um desenho, geralmente a criança. A inovação desta pesquisa é sugerir que todos os membros montem um desenho coletivamente. “Isso é passado como uma tarefa. Algumas famílias começam a desenhar logo, outras têm mais dificuldade em se organizar para realizar essa tarefa, pois precisam pensar em como vão ser as regras. E tudo isso é válido na minha observação.”
O desenho em conjunto pretende trabalhar uma inclusão efetiva dos pais no descobrimento das angústias que envolvem a criança. Esse é o momento onde ficam evidentes as zonas de conflito. Isso torna o procedimento importante, pois ele detecta os pontos relevantes que devem ser trabalhados futuramente durante a psicoterapia.
Maria Regina explica que utilizou o referencial teórico winnicottiano, que diz que não existe uma criança sem a mãe, por isso a importância de uma análise conjunta. Ela diz que é importante manter os pais próximos, pois a criança faz parte de um ambiente e de um conteúdo, de modo que não é possível ter uma percepção total de suas angústias sem analisar esse ambiente em que ela está inserida.
A maneira como os pais e filhos interage, os conflitos que surgem durante a tarefa e as reações que a ação proposta traz dizem muito sobre os problemas daquela família. A psicóloga defende que ele funciona como um dispositivo clínico, que propõe a comunicação. Antes desse momento, Maria Regina realizou entrevistas com os pais e experiências lúdicas com as crianças. O que ficou claro é que o desenho foi um facilitador na percepção das angústias e conflitos que viriam a ser trabalhados nas fases seguintes, com atendimentos individuais.
A tese de doutorado O uso do desenho conjunto na entrevista familiar: uma proposta para o psicodiagnóstico de crianças foi orientada pela professora Audrey Setton Souza, também do IP.
A proposta, segundo a psicóloga, não é culpabilizar ninguém. “Parto do ponto de que não existe um culpado. Eu tento entender o problema e facilitar o encontro de caminhos de solução. Se o modo adotado chegou a impasses é porque os pais não sabiam como fazer e, por isso, precisam de ajuda para buscar construir novas orientações.” Além disso, uma atitude comum que Maria Regina reprova é a de psicopatologizar o comportamento das crianças. “Temos uma tendência de culpabilizar a criança. Se tem um sintoma é porque existe uma dificuldade nessa dinâmica de funcionamento, que precisa ser repensada.”