ISSN 2359-5191

06/10/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 13 - Economia e Política - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Parasita que causa prejuízos à avicultura tem 90% de seus genes mapeados

São Paulo (AUN - USP) - Há dois anos, membros do grupo interdisciplinar do Laboratório de Biologia Molecular (LBM) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, vêm estudando novas formas de combater a atuação de protozoários do gênero Eimeria no organismo de frangos. O trabalho, realizado em parceria com pesquisadores ingleses e malásios, culminou no seqüenciamento dos genes de três espécies do microrganismo – E. tenella, E. acervulina e E. maxima –, que está em sua fase final, com 90% do código genético mapeado.

A Eimeria é o agente causador da coccidiose, doença que atua nos processos digestivos de frangos, impedindo uma maior absorção de nutrientes pelo animal. “Por esse motivo”, diz Arthur Gruber, professor do Departamento de Patologia da FMVZ e coordenador do projeto no Brasil, “a coccidiose é alvo de preocupação econômica entre avicultores de todo o mundo”.

Deve-se ter consciência de que a Eimeria não traz nenhum problema à saúde do ser humano. O protozoário também não prejudica a qualidade da carne do frango. Mesmo doente, a ave pode ser consumida normalmente. “O maior problema acarretado pela ocorrência da coccidiose é mesmo econômico”, diz Gruber. Isso porque o tempo de engorda do frango e a quantidade de ração que ele consome são os dois principais fatores que definem o prejuízo ou o lucro do criador. “Um frango é abatido com cerca de 40 dias. Para isso, ele consome uma ração altamente elaborada, preparada à base de milho, soja e sorgo. Estes produtos têm um custo elevado, pois são cotados em dólar.”

A atuação da Eimeria, portanto, retarda a engorda do frango, fazendo com que ele necessite comer mais ração e ficar mais tempo na granja para atingir o peso ideal para o abate – cerca de 2kg. “Outro problema causado pela Eimeria é que ela mata aproximadamente 10% dos galináceos atingidos pela coccidiose, o que também traz prejuízos ao criador”, lembra Gruber.

Controle ineficaz

“A Eimeria é transmitida pelas fezes do frango”, diz o pesquisador. Quando atinge um grupo de animais, sua disseminação é de difícil controle, principalmente por causa do tipo de confinamento nas granjas – que coloca milhares de aves num espaço reduzido. O hábito que os frangos têm de ciscar também colaboram com a transmissão da coccidiose, pois fazem com que aves sadias acabem ingerindo fezes de animais contaminados.

Ainda não existe uma solução eficaz e barata para combater a coccidiose. As espécies de Eimeria atualmente são controladas de duas formas: ou por antibióticos ou por uma espécie de vacina. O problema dos antibióticos é que eles são misturados às rações ou à água dos frangos em subdosagens, o que não elimina as formas mais resistentes de Eimeria. “Outra implicação é que o mercado europeu e asiático, importador da produção avícola brasileira, está preferindo animais criados sem substâncias químicas – o que eles chamam de green chicken. O país pode perder compradores internacionais se não se adequar a essa determinação”, comenta Gruber.

Segundo o pesquisador, as vacinas que existem também possuem eficácia reduzida. Em vez de imunizar o galináceo contra a coccidiose, ela pode infectar o animal com a doença, que, posteriormente, será transmitida para as outras aves. “Os estudos que estamos desenvolvendo sobre a Eimeria são esforços conjuntos para encontrar novas formas de combater a coccidiose”, explica Gruber. Ele diz ainda que, além de parcerias internacionais, há um trabalho conjunto com uma empresa nacional de vacinas para uso veterinário. “Quando finalizado o seqüenciamento dos genes da Eimeria, poderemos decifrar o funcionamento específico do microrganismo e combatê-lo mais efetivamente.”

O professor Arthur Gruber foi membro do grupo que mapeou os genes da bactéria Xylella fastidiosa, microrganismo conhecido como “amarelinho”, que ataca plantações de laranja. Por ter sido pioneiro no estudo do código genético de um parasita de importância para a agricultura, a pesquisa sobre o “amarelinho” foi publicada na revista científica Nature, em julho de 2000. Como parte de seu trabalho com a Eimeria, Gruber está coordenando a IX Conferência Internacional de Coccidiose, que acontece de 19 a 23 de setembro de 2005, em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Mais informações:
argruber@usp.br
www.lbm.fmvz.usp.br/

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