São Paulo (AUN - USP) - “Certas cuias do norte, certos vasos marajoaras, certas lendas, são estupendos, Carlos. Aliás, sempre tive propensão imensa por tudo quanto é criação artística popular”. Nesta carta de 1927 ao poeta Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade expressa o seu interesse pela diversidade da cultura popular do Brasil. Agora, após inaugurar a exposição Coleção Mário de Andrade, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) realiza um ciclo de seminários para expor e debater o interesse do artista e pesquisador polivalente que foi Mário Raul de Morais Andrade.
O primeiro seminário foi realizado no dia 2 de outubro e tratou da atuação de Mário de Andrade em sua época. Os três encontros seguintes tratarão das culturas e tradições indígenas, afro-brasileiras e católicas, nesta ordem. Serão realizados dias 16 e 23 de outubro e 6 de novembro, sempre aos sábados, a partir das 11 hs, no IEB.
Para Sérgio Micceli, professor titular do departamento de sociologia da USP que participou da abertura deste ciclo de seminários, Mário buscava uma formação que não fosse aquela tradicional, do agrado da oligarquia, um sistema "ancorado na passagem forçada pela Faculdade de Direito e estágio de familiarização com os modelos masculinos da classe dirigente". Era um momento de intensa repressão. Os terreiros das religiões afro-brasileiras eram vigiados por funcionários do governo e constantemente fechados. Aqueles que discordavam do padrão estabelecido de arte e cultura não eram aceitos.
Mário de Andrade era um "intelectual democrático", diz o professor, no sentido de lidar com tudo aquilo que se relacionasse com arte e cultura no Brasil. Essa preocupação não era comum na época. O que era visto por muitos com preconceito, mesmo por outros intelectuais, Mário via como a resposta para compreender a identidade cultural dos brasileiros. “O tempo todo, os intelectuais que se correspondem com ele reagem a coisas que não estão no universo deles”. Mas Mário de Andrade não repudiava o erudito: “ele comenta a temporada de ópera no Rio de Janeiro e as coisas que ele ouvia nas bandas populares”, diz Micceli. Para analisar as diversas formas de arte, Mário adotava padrões diferentes e, quando necessário, criava novos padrões.
De acordo com a pesquisadora do IEB, Marta Rossetti, Mário demonstrou grande interesse pela diversidade cultural do Brasil e, por isso, tornou-se "uma espécie de depositário da cultura brasileira", recebendo e pedindo objetos de amigos. Ele também coletava o patrimônio imaterial, ignorado até aquele momento, composto por danças, músicas, lendas e tradições populares.
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