São Paulo (AUN - USP) - Sócios e funcionários de indústrias criativas, mais especificamente nos estúdios de animação, buscam em seus trabalhos mais realização pessoal do que financeira, é o que aponta a pesquisa de dissertação de mestrado concluída em 2012 Gestão de pessoas em estúdios de animação: entendendo as pequenas empresas da indústria criativa brasileira, de Marta Corrêa Machado e orientada pelo professor André Luiz Fischer, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).
A pesquisa demonstra que os funcionários têm forte identificação com as peças produzidas, podendo até mesmo sacrificar a vida pessoal em nome da empresa. “Muitos funcionários dizem que o trabalho é muito exigente e ganha-se pouco, mas o prazer em trabalhar com o que se gosta é o mais importante”, declara Marta. “Existe até o discurso clichê de ‘eu prefiro ganhar menos do que estar preso em cubículo.’”
Por conta de um ideal de arte autoral, os sócios criam dilemas com os quais lidam durante a gestão: ser autoral ou comercial?; trabalhar pela arte ou pelo dinheiro?; ser artista ou empresário? “Muitos deles têm o ideal da ‘arte pela arte’ como algo a se atingir. Os serviços financeiros são prestados para conseguir recursos para chegar a trabalhos próprios”, explica. “As próprias empresas não têm um ar comercial. O clima é amistoso e as pessoas têm liberdades que não teriam em outras empresas.”
Além disso, o estudo mostrou que as empresas artísticas são normalmente pequenas, com uma recusa em crescerem. Por conta de seus tamanho diminutos e de suas ideologias, as empresas tendem a gerenciar seus funcionários sem um setor especializado en RH, cabendo à função aos sócios.
A contratação se dá, muitas vezes, por conta dos contatos feitos pelas pessoas da área. “Os funcionários prezam pela vida boêmia para fazer amigos e conseguir mais fácil estes contatos”, declara Marta. “Mas a boemia não necessariamente é sair, beber, levar uma vida ‘na farra‘, mas sim fazer amizades e conversar.”
A distância do tema das áreas comuns da administração foi, segundo o professor Fischer, uma experiência pouco usual. Mas ressalta: “É importante sair um pouco deste mundo e entrar em contato com outras áreas. Outro desafio da pesquisa foi o fato de Marta ser de Porto Alegre e a orientação ter sido ‘à distância’”.