São Paulo (AUN - USP) -Entre agosto de 2011 e julho de 2012, foi desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP uma pesquisa de Iniciação Científica que visava verificar as características fenotípicas de mutações percebidas em ninhadas de camundongos de laboratório.
A graduanda de Medicina Veterinária Márcia Carolina Millán Olivato, de 24 anos, foi convidada a integrar o projeto em virtude de uma impossibilidade anterior. “Minha intenção era trabalhar um tema voltado à oncologia [especialidade médica de tratamento de tumores, ou cânceres], e cheguei até a escrever um pré-projeto com este foco, mas o rapaz que o desenvolveria comigo saiu do laboratório, e eu não podia realizar o trabalho sozinha”, conta. “Mas me interessei pelas mutações dos camundongos e entrei para esta então nova pesquisa do Departamento de Patologia (VPT).”
O convite partiu da professora, que veio a ser sua orientadora na pesquisa, Maria Lucia Zaidan Dagli, especialista em Oncologia do VPT, a quem a estudante havia procurado para seu pré-projeto. Tendo iniciado participação, Márcia passou a dividir o biotério – local onde são mantidos os animais de laboratório, como ratos e camundongos – com a técnica de laboratório Cláudia Mori, que se tornou colaboradora da Iniciação. “A ajuda da Cláudia foi muito importante, desde o começo, pois eu nunca tinha frequentado um biotério, além de que foi ela quem ministrou os cruzamentos entre os animais mutantes e me ensinou técnicas como as de coleta e pesagem de órgãos, por exemplo”, lembra.
A proposta da pesquisadora foi de, através desse acompanhamento de alterações sofridas pelos animais mutantes, que apresentavam convulsões, tremores corporais, além de tamanho inferiores aos demais, estabelecer a caracterização fenotípica dos animais mutantes, a fim de possibilitar a realização de um mapa genético do problema, conforme explica. “As confecções de mapas genéticos são muito mais longas e mais complexas, então não tem como ser parte de uma pesquisa de Iniciação Científica.”
No início dos trabalhos, entretanto, a aluna revela que precisou de um período de preparação, incluindo treinamento. “Como a pesquisa não era na minha área, precisei de muitas leituras para me familiarizar com o tema, além de realizar a prática de alguns procedimentos, como a anestesia, em algumas cobaias externas à pesquisa, antes de executá-los nos animais mutantes”. A maior dificuldade de Márcia, no entanto, foi relativa a um tema fruto de polêmica em diversos assuntos do ramo da Medicina. “Nunca tive problemas com abrir os corpos nas necropsias, ter contato com sangue, essas coisas, a parte mais difícil foi na hora de começar a ‘eutanasiar’ as cobaias, mas fiquei convencida de que era por bons motivos, não causaria dor aos animais e realizava procedimentos aprovados pelos Comitês de Ética.”
Ao final do estudo, a pesquisadora afirma ter atingido o resultado esperado. “Consegui realizar as caracterizações, confirmei menores ganhos de peso dos animais mutantes, descartei atrofia muscular e alterações macroscópicas nos órgãos, levantando a hipótese de haver falha na produção de mielina, mas isto já é assunto para minha próxima pesquisa, e não posso estragar a surpresa ainda”, conta, em tom de promessa.