São Paulo (AUN - USP) - Os desafios para uma Amazônia sustentável foram tema da mesa Sustentabilidade da Amazônia Brasileira, realizada no dia 21 de novembro, no Instituto de Estudos Avançados (IEA). Toby Gardner, ecologista britânico que estuda os efeitos do homem na Amazônia, foi o principal palestrante do evento, que contou com a participação de Roberto Araújo de Oliveira Santos Júnior, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), como debatedor e o professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), como coordenador.
Gardner, que divide suas pesquisas entre as diversas universidades, como a de Cambridge Lancaster University, ambas no Reino Unido, e, dentre as brasileiras, a FEA, também participa da Rede Amazônia Sustentável (RAS), programa de pesquisa interdisciplinar realizado nos municípios paraenses de Paragominas e Santarém. Neste dia, o pesquisador divulgou o trabalho feito pela RAS, que é o de discutir as relações entre o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade.
O pesquisador começou sua apresentação contextualizando do debate sobre o sustentável, relembrando que, na Amazônia, vivem mais de 45 milhões de pessoas. Gardner disse que o local está com uma “janela de oportunidade”, e ela é mais evidente com a queda na taxa de desmatamento. Reiterou a necessidade de investimentos imediatos, para que essa oportunidade não se perca.
Toby Gardner também falou da necessidade de se entender a complexidade e heterogeneidade amazônica, que é vista como igual e sem nenhum contraste. O pesquisador também mencionou sobre dados de demonstram o rápido crescimento da região, que passou de 12 para 21 milhões de habitantes de 1980 a 2000, com mais de 70% da população vivendo nas cidades. O aumento do PIB nas cidades amazônicas também foi maior do que das cidades externas à região nas três ultimas décadas.
Essa interconexão e velocidade trazem uma série de vulnerabilidades e imprevisibilidades, que podem não abranger todo esse crescimento, apesar da diminuição do desmatamento. A primeira vulnerabilidade é a ecológica, que, para Gardner, é pouco conhecida em sua dimensão. A discussão quase sempre se concentra na cobertura, na extensão florestal, porém há processos, como o fogo, destroem e descaracterizam a camada vegetal, e que não tem diminuído. Os grandes períodos de seca aliados com pontos isolados de desmatamento contribuem para essa situação.
Falando mais do seu conhecimento sobre Santarém e Paragominas, o especialista falou sobre a segunda vulnerabilidade, a do sistema socioeconômico. Um dos grandes problemas são as grandes dívidas de projetos de desenvolvimento já realizados, como o de plantação de determinadas culturas, que fizeram que muitas famílias ficassem com muitas dívidas, que permanecem por gerações. Outra fragilidade é a do sistema institucional, que está relacionada com os fracassos dessas iniciativas, que não se somam a para o conjunto do desenvolvimento. A última vulnerabilidade citada foi a climática, que para Gardner envolve todas as outras.
Após essa contextualização, o especialista depositou provocações sobre os desafios para uma Amazônia sustentável. Toby Gardner falou da necessidade da real implantação da legislação ambiental, do zoneamento, agricultura sem queimadas e valorizando mais os recursos e produtos locais, crescimento da agricultura responsável, nossas possibilidades no mercado financeiro, como o mercado de carbono, e, por fim, o manejo florestal. Mas o próprio pesquisador disse que essas medidas não são suficientes. Isso porque não há uma discussão ampla da necessidade dessas medidas, não há a clareza do porque é necessário sustentar. A necessidade da preservação das águas não é valorizada, entre outras necessidades. Por isso o professor disse que é necessário que se dê “alguns passos para trás”, e fazer perguntas mais básicas para dar êxito ao desenvolvimento, de seus valores e dos objetivos.
Gardner reforçou o caráter contínuo da vontade de desenvolvimento sustentável, que não tem um manual único, pois sempre traz novos desafios. Há o risco, para ele, do próprio símbolo de sustentabilidade maquiar a real meta, muito encontrada na ciência. O estudioso também falou da necessidade de se criarem um maior número de institutos, com maior número de recursos humanos dedicados e integrados às diferentes agendas e problemas, negando a superficialidade.