São Paulo (AUN - USP) - Está em andamento no Instituto de Psicologia da USP uma pesquisa com usuários de ecstasy, realizada pelo Laboratório de Psicofarmacologia do Departamento de Psicologia Experimental. Intitulada “Projeto Baladaboa”, a pesquisa tem como finalidade colher dados sobre hábitos de usuários e sobre o uso do ecstasy, para então elaborar e implantar um programa preventivo com base na “Redução de Danos” (RD) que são causados pela droga.
Os dados são obtidos através de um questionário online e entrevistas com jovens que já usaram ecstasy. Mais de 800 pessoas já foram consultadas, segundo a pesquisadora Stella Pereira de Almeida. “O nosso objetivo é conhecer o universo sociocultural e comportamentos de usuários, e mapear riscos associados ao uso para subsidiar um projeto de RD”.
O ecstasy foi escolhido como alvo da pesquisa porque ainda não havia estudos brasileiros sobre o assunto. Faltavam dados sobre os padrões de uso e sobre seus efeitos e danos. Além disso, é uma droga relativamente nova e moderna, cujo consumo vem crescendo. Hoje em dia, é comum ver jovens usando a droga em raves (festas ao ar livre), clubes de música eletrônica e até em situações inusitadas – como em parques ou em casa. “O ecstasy é a droga da moda, e todo mundo toma porque te deixa alegre, disposto pra dançar e porque não faz tão mal”, afirma J. R., estudante de 22 anos. Essa reputação de droga “segura” é recorrente, mas já se sabe que ela pode ser muito perigosa.
A metilenodioximetanfetamina (MDMA) – como é conhecido cientificamente o ecstasy – é uma droga psicoativa, com propriedades estimulantes e perturbadoras do sistema nervoso central. Apesar de ser lembrada por seus efeitos prazerosos (como excitação, euforia, aumento de energia, despreocupação e sensualidade), o seu uso pode trazer diversos danos. Entre eles estão alucinações, taquicardia, náuseas, insônia, desidratação, aumento excessivo da temperatura corporal, depressão e a chamada “bad trip” – quando o usuário, em vez de apresentar os efeitos prazerosos imediatos, entra em depressão acentuada e tem alucinações “ruins”, paranóias e idéias suicidas. Há também relatos de mortes causadas por sua ingestão. Outro perigo é a incerteza da composição dos comprimidos, já que não existe controle farmacêutico da droga. Nada garante que os usuários não estejam ingerindo outras substâncias, às vezes muito mais nocivas que o MDMA.
“Não queremos apenas usar o slogan ‘não use drogas’, pois sabemos que isso não funciona sempre. Queremos informar e, principalmente, reduzir riscos e danos daqueles que optarem por usar o ecstasy”, diz Stella. O uso da droga está concentrado nas classes média e alta, e vem se popularizando, como já aconteceu na Europa e Estados Unidos. Dentre as ações de Redução de Danos, a pesquisadora destaca alguns pontos: não exagerar na dose de ecstasy, ingerir água e bebidas isotônicas com freqüência, evitar a mistura com outras drogas (álcool, maconha, cocaína etc), descansar em lugares frescos após a ingestão do comprimido e estar sempre acompanhado.
A pesquisa será encerrada em agosto de 2005, quando será defendida uma tese de doutorado sobre o assunto. Os dados e conclusões obtidos serão aplicados na elaboração de um programa preventivo. Pretende-se, também, criar parcerias com o poder público e instituições privadas para disseminar os resultados e as ações de prevenção e Redução de Danos. “O estudo está voltado principalmente para este fim [a RD], mas se a implantação efetiva não puder ser realizada, será um estudo descritivo importante para a saúde pública”, afirma Stella.
Mais informações:
Projeto Baladaboa: www.psicofarmacousp.psc.br