São Paulo (AUN - USP) - Partindo de uma técnica na qual é possível separar os elementos vindos da poluição industrial dos que vêm da poluição veicular (automóveis, caminhões e ônibus), um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), junto a especialistas de outras instituições (como o Instituto de Botânica, ligado à Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo) estão mapeando as concentrações de resíduos de metais em vários locais da grande São Paulo.
Para a realização da pesquisa, foram utilizadas plantas - chamadas pelos especialistas de “biomonitores” - que têm a capacidade de absorver estes resíduos metálicos direto da atmosfera. Neste caso, foram utilizadas duas espécies, que podem captar diferentes elementos: uma bromélia (Tillandsia usneoides) e um líquen (Canoparmelia texana).
Depois de colhidas, as amostras são levadas ao Ipen, aonde os resíduos metálicos contidos no material são identificados através de uma técnica chamada “Análise por Ativação Neutrônica”. Esta técnica consiste em colocar em contato um elemento radioativo com um outro não-radioativo (no caso, a planta), ocorrendo, assim, uma reação com o nêutron deste elemento não-radioativo. Da reação se formam os radioisótopos, que também são elementos radioativos e que emitem uma outra espécie de radiação – a gama. A partir da medição da intensidade dessa radiação gama é que se obtêm o grau de contaminação a que a área analisada está suscetível em relação a um elemento químico.
“Algumas das vantagens da Análise por Ativação Neutrônica são que, além de conseguir estudar baixas concentrações, pode-se também analisar vários destes elementos ao mesmo tempo”, explica Mitiko Saiki, pesquisadora do Ipen que utiliza o líquen Canoparmelia em sua pesquisa.
A técnica se diferencia, por exemplo, da utilizada pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), em que ao invés de captar os resíduos de metais, são obtidos dados sobre a contaminação causada por gases, como o monóxido de carbono (CO), o dióxido de enxofre (SO2) e o dióxido de nitrogênio (NO2). “A contaminação por resíduos de metais é uma coisa nova, sobre o que não há tanta informação nem dados oficiais (...) Podemos inclusive utilizar as informações obtidas através dos biomonitores como complemento aos métodos convencionais de monitoramento de poluição”, aponta a pesquisadora do Ipen, Ana Maria Figueiredo, que desenvolve o trabalho com a bromélia Tillandsia.
Resultados parciais
A pesquisa, que está em fase de tratamento dos dados obtidos, foi iniciada em 2002 e analisou 10 dos 23 locais da Grande São Paulo que servem como pontos de medição da Cetesb: Ibirapuera, Cerqueira César, Parque Dom Pedro II, Congonhas, Santana, São Miguel Paulista, Pinheiros, Santo André (Centro), São Caetano do Sul e Mauá.
Mesmo que não concluída, a pesquisa já dá indícios dos locais mais problemáticos em relação a esse tipo de contaminação. “Encontramos altas concentrações de vários elementos metálicos em regiões como Santana e Santo André”, aponta Mitiko Saiki. Apesar de representar sintomas de uma contaminação mais ampla, Mitiko observa que não se pode generalizar. “Não podemos afirmar que toda a cidade de Santo André está poluída, pois as amostras foram retiradas de apenas um ponto da cidade” (neste caso, da Rua das Caneleiras).
Ana Maria Figueiredo apresenta outros dados. “Na região de Congonhas, Cerqueira César e Parque Dom Pedro II, por exemplo, captamos um aumento nas concentrações de bário, o que indica provavelmente uma contaminação provocada pela poluição veicular, pois são áreas de tráfego intenso. Já as amostras obtidas no ponto de Santo André indicaram grandes concentrações de zinco, podendo-se deduzir que tenham como fonte as quase 200 indústrias de aço da região”, explica.
A complementaridade dos métodos de monitoração fica evidente quando se compara os resultados do Ipen e da Cetesb. Tanto pelos dados obtidos por Mitiko quanto pelos de Ana Maria, a conclusão é de que a região do Ibirapuera (o ponto de medição fica dentro do parque) tem um grau menor de contaminação, tanto veicular quanto industrial, em comparação a lugares como Cerqueira César. Ao mesmo tempo em que, pelo método utilizado pela Cetesb, não raro o Ibirapuera apresenta um índice de poluição atmosférica tão alto quanto o de Cerqueira César. “A partir da nossa técnica, não conseguimos captar o chumbo, por exemplo. A diferença está entre os elementos químicos que uma técnica pode captar ou não”, finaliza Mitiko.
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