ISSN 2359-5191

22/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 139 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisador estuda lianas e produz um Guia de Identificação

São Paulo (AUN - USP) - Altas, enraizadas no solo, mas dependentes de um suporte para se manter eretas. É dessas plantas, as trepadeiras, que vêm frutas e legumes conhecidos como, uva, maracujá e chuchu. Muito comuns em florestas climáxicas – florestas no ápice de seu desenvolvimento a ponto de apresentarem diversos gradientes vegetacionais – elas podem ser encontradas em todos os domínios geográficos do Brasil.

As trepadeiras podem ser divididas em trepadeiras herbáceas, que não formam madeira e têm seus caules mais moles e esverdeados, e as lianas, trepadeiras lenhosas que produzem madeira e são mais robustas, os conhecidos cipós.

As lianas são o tipo de trepadeiras capazes de produzir madeira que tem funções desde condução e sustentação até a reserva de substâncias orgânicas. Suas sementes germinam no solo e durante seu crescimento podem sofrer grandes deformações caulinares sem se prejudicaremtambém em função de se adequar ao suporte). Esse grupo de plantas também são grandes responsáveis pelo aumento da diversidade florística em todos os ambientes onde ocorrem e tem funções ecológicas importantes.

Essas plantas, tão importantes ecologicamente inclusive para a fauna, são muitas vezes deixadas de lado e até tem sofrido constante corte e eliminação o que pode atuar favoravelmente na seleção de espécies agressivas que são capazes de se reproduzir em grande velocidade a ponto de prejudicar ou extinguir várias outras causando um impacto ambiental negativo.

As lianas têm inúmeras utilidades para algumas sociedades humanas. Em algumas tribos do continente americano são comumente usadas como cordas; são amplamente utilizadas como artesanato, e se destacam como plantas medicinais combatendo, por exemplo, diarreias, reumatismo, eczemas, inflamações de pele e doenças circulatórias.

Pensando em medidas de conservação e manejo dos ecossistemas, Cairo Faleiros de Figueiredo, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP teve a ideia de realizar a pesquisa sobre as lianas, de forma a identificá-las por meio de mecanismos rápidos e práticos. A pesquisa buscou trabalhar com inovações chave dentro do campo de estudo abordado.

Essas inovações são aquelas “que possibilitam a resolução rápida de conflitos em determinada área, que servem como ponto inicial para o inicio de uma pesquisa ou de um trabalho de campo e também podem ser consideradas agregadoras de diversos campos científicos para o estudo de determinado objeto”, explica Figueiredo.

A pesquisa Anatomia e identificação macroscópica das lianas da Reserva Florestal do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil,/i> realizou a descrição anatômica macroscópica (a olho nu ou com a ajuda de lentes de aumento de no máximo dez vezes) dos caules das espécies de lianas ocorrentes na Reserva. Também foram utilizadas características organolépticas – percebidas pelos sentidos humanos, como cor, odor, tato – da madeira para contribuir com uma identificação mais efetiva das plantas em campo.

Por meio da coleta e da descrição de partes do caule de 54 espécies, Figueiredo chegou a constatar variações caulinares que permitem separar diferentes grupos de lianas porgênerose ainda mais exatos, como o reconhecimento de espécies. O método principal foi a análise na produção de tecidos, e consequentemente, na formação de diferentes tipos de caules, mas também foram consideradas as características da casca. O trabalho também resultou em um Guia de Identificação, que mostra aspectos da anatomia desse tipo de trepadeira, importantes para quem trabalha na exploração, extração, fiscalização e coleta das lianas.

“Qualquer pessoa amadora, técnicos, cientistas, bombeiros até mesmo entusiastas, com uma leitura de alguns dias do manual produzido e uma lupa com aumento de 10 vezes pode identificar a maioria das trepadeiras lenhosas (as lianas) de florestas do Estado de São Paulo, o que diminui um pouco a distancia entre academia e sociedade”, finaliza o pesquisador.

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