Eles possuem quase os mesmos integrantes, premissas e conjunturas de debate. Pesquisador do IRI-USP mostra, porém, que pareceres do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Grupo dos 20 (G20) diferem muito, mais ainda em questões sobre emergentes. A conformidade entre a demanda brasileira por discutir certos assuntos e a agenda de conhecidos organismos internacionais foi tema da pesquisa que gerou a tese de mestrado de Marcelo Waldvogel Oliveira Lima: “A posição do Brasil na governança econômica mundial: um estudo da conformidade entre o posicionamento do governo brasileiro e o consenso expresso nos comunicados oficiais do G20 e do FMI (2006-2012)”. Seu estudo fala da posição do país no conjunto de padrões e procedimentos que dizem respeito à organização mundial da economia.
Parecidos, mas nem tanto
Era uma reunião do International Monetary and and Financial Committee. Ministros negociavam qual seria o texto do comunicado oficial a ser emitido sobre a reforma de quotas e governança do FMI. A representante europeia era irredutível, impedindo a utilização da expressão "pesos econômicos" pelo uso de "posições econômicas", por considerar que a noção de "peso" desfavorecia países europeus pequenos e ricos em relação às grandes economias emergentes. Um representante destes não se conteve, lembrando que "ontem mesmo" estavam ambos na reunião do comunicado oficial do encontro dos ministros do G20 e que ela havia concordado com o uso da expressão "pesos econômicos". Ela só respondeu: "Lá era o G20...”
Por que essas instituições apresentam pareceres tão diferentes, apesar da semelhança de seus países-membros, de suas missões (manter a estabilidade financeira internacional) e da conjuntura dos debates? A primeira parte do estudo de Waldvogel diz respeito ao desenho de tais organismos, e chega à conclusão de que o G20, em função de sua configuração institucional, oferece melhores condições para favorecer a consolidação das economias emergentes no sistema internacional do que o FMI, que possui uma “assimetria institucionalizada”. O FMI é uma instituição financeira internacional com 188 países-membros. Já o G20 é uma rede intergovernamental informal, como um fórum que promove o diálogo entre autoridades sobre políticas macroeconômicas. São instituições fundadas em diferentes momentos para lidar com especificidades conjunturais. Assim, têm desenhos institucionais distintos.
Uma extensa base de dados
A segunda etapa do estudo faz uso de communiqués do IMFC e do G20 ministerial, componentes de nível ministerial das instituições, de 2006 a 2012, em análise de conteúdo com técnicas qualitativas e quantitativas. A hipótese que norteia esse empirismo é a de que o consenso expresso pelo G20 mostra maior conformidade em relação ao posicionamento oficial do Brasil (formalizado em discursos do ministro da Fazenda, Guido Mantega) do que o consenso expresso pelo FMI. Analisaram-se os destaques dos temas e não sua valência (a favor ou contra), divididos em categorias: arquitetura financeira internacional, crise financeira internacional, desequilíbrios globais, padrões e códigos financeiros internacionais, reforma de quotas e governança do Fundo Monetário Internacional e regulação financeira internacional.
Evolução percentual dos temas dos communiqués do IMFC no período 2006-2012.
Fonte: WALDVOGEL, Marcelo. A posição do Brasil na governança econômica mundial.
Evolução percentual dos temas dos communiqués do G20 no período 2006-2012.
Fonte: WALDVOGEL, Marcelo. A posição do Brasil na governança econômica mundial.
A análise empírica permitiu concluir que há uma redução na extensão dos comunicados do IMFC e aumento nos do G20. Considerando o posicionamento oficial do governo brasileiro, é possível afirmar que o consenso expresso pelo G20 ministerial apresenta maior conformidade com a posição do país do que o expresso pelo IMFC. Para confiabilidade adicional da pesquisa, empregaram-se ferramentas informatizadas de quantitative textual analysis (análise quantitativa de textos e mensagens com base em métodos científicos), que confirmaram que os temas demandados pelo Brasil eram mais evocados no Grupo dos 20.
Waldvogel explica a relevância do estudo: “A multiplicação de estudos similares, seguida do desenvolvimento de políticas específicas de atuação nestas instituições a partir dos resultados obtidos, pode contribuir para o estabelecimento de um novo equilíbrio sistêmico que supere o desequilíbrio que caracteriza o sistema internacional”.
Foto de chamada: Dipnote/U.S. Department of State Official Blog