No último sábado, dia 6 de abril, foi realizada a Oficina de Inferência Estatística Informal na Escola Básica, evento organizado pelo Centro de Aperfeiçoamento do Ensino de Matemática (Caem), que pertence ao Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP). Ministrada pelo professor Marcos Magalhães, do Departamento de Estatística (MAE) do IME, a oficina foi marcada pela introdução de alguns conceitos da área, uma crítica ao ensino desta disciplina na escola básica e, sobretudo, por atividades didáticas que visavam facilitar a apreensão dos conceitos e que podem ser usadas nas salas de aula.
Estatística é a ciência que utiliza-se das teorias probabilísticas para explicar a frequência da ocorrência de eventos, tanto em estudos observacionais quanto em experimentos que visam a modelar a aleatoriedade e a incerteza de forma a estimar valores nesses eventos. Assim sendo, inferência estatística é um ramo da estatística cujo objetivo é fazer afirmações a partir de um conjunto de valores representativo (amostra) sobre um universo. “A inferência estatística é geralmente distinta da estatística descritiva, pois descrição estatística pode ser vista como a simples apresentação dos fatos, nos quais o modelo de decisões feito pelo analista tem pouca influência”, disse Magalhães. Além disso, foram trabalhados na oficina os conceitos de média, mediana (valor que se apresenta no meio de um conjunto de valores), moda (valor que aparece com mais freqüência no conjunto), amplitude (diferença entre o maior e o menor valor dentro de um conjunto analisado) e probabilidade, de modo a entender melhor o que é trabalhado na área.
“É claro que nem todas as pessoas têm formação para entender os cálculos feitos por quem trabalha na área, mas todos devem compreender as informações passadas por eles, pois lidamos com estatística o tempo todo”, afirmou Magalhães. A compreensão se daria a partir do momento em que os professores “desmistificam” a matemática, fazendo isso, principalmente, com a “alfabetização estatística”, isto é, fazer os estudantes entender gráficos e diagramas encontrados no cotidiano das pessoas, de modo a contextualizar a importância do que está sendo dito. “Podemos trabalhar, nesse sentido, com uma empresa cuja média salarial de seus 100 funcionários seja de cinco salários-mínimos (SM). Bom, nesse caso, todos os funcionários podem ganhar isso de salário, mas pode ser que 99 funcionários ganhem um SM e apenas um funcionário ganhe 401 SM. Se uma pessoa não souber o conceito de média e não considerar esse tipo de variabilidade (que é recorrente nesses casos), não saberá interpretar esse dado e, se tomar essa única empresa como referência para deduzir quanto cada cidadão ganha, errará a estimativa”, disse Magalhães. “Muita gente chegou à universidade sem saber esses conceitos, mas isso vem mudando devido ao ensino dessa área no colegial porque o Enem passou a cobrar isso em seus exames”, completou.
A partir desse momento, o professor Magalhães fez uso de atividades práticas para demonstrar como ensino dessa área pode ser feito na escola de maneira didática e acessível. Destaque para duas atividades baseadas em uma tabela que continha dados de idade e altura de 212 diferentes alunos de graduação e pós-graduação do IME. Nessas atividades, os demais professores presentes tinham que estimar a idade média (e, da mesma forma, a mediana e a moda) dos alunos e a altura média dos homens e das mulheres da instituição (e, depois, calcular mediana e moda para os dois). Os resultados foram os mais variados. “A informalidade desta oficina diz respeito à falta de práticas matemáticas formais para a determinação da amostragem, de tal forma que pessoas sem formação no assunto pudessem fazer uma estimativa do valor real que, no caso da média das idades, foi de 26,71”, afirmou Magalhães. Houve resultados de menos de 22 anos e de mais de 33. “Os que chegaram mais perto do resultado real (27,5 e 26,12) foram os que utilizaram métodos mais aleatórios, prática que deveria ser mais comum, tendo em vista que a sistemalidade na escolha de objetos matemáticos sem o uso da matemática formal causa, geralmente, erros na estimativa”.